Aviões militares abrem fogo contra manifestantes na capital líbia

Bombardeios teriam matado 250, mas não há confirmação independente. Protestos contra o governo Kadhafi se intensificam no país.

Moradores sobre tanque com a bandeira nacional pré-Kadhafi, nesta segunda-feira (21), na cidade líbia de Benghazi. (Foto: AP)

Aeronaves militares atacaram uma multidão de manifestantes antigoverno em Trípoli, capital da Líbia, disse a televisão Al Jazeera.

O líbio Soula al-Balaazi, que disse ser ativista da oposição, afirmou à rede por telefone que caças da Força Aérea da Líbia bombardearam "alguns locais em Trípoli". Ele disse que falava de um subúrbio de Trípoli.

Pelo menos 250 pessoas teriam morrido, segundo a emissora. Já a Al Arabiya fala, sem citar fontes, em 160 mortos.

Mais cedo, a Federação Internacional de Direitos Humanos havia calculado entre 300 e 400 o número de mortos desde o início da rebelião contra o governo de Muammar Kadhafi. Segundo a Human Rights Watch, ao menos 233 morreram

Nenhuma verificação independente das notícias estava disponível no momento.

Moradores dos bairros de Tayura e Fashlum relataram um "massacre", com muitos mortos, inclusive mulheres.

Outro morador da capital também afirmou à TV que diversas áreas da capital estão sendo bombardeadas.


"O que estamos testemunhando hoje é inimaginável. Aviões de guerra e helicópteros estão bombardeando indiscriminadamente uma área depois da outra. Há muitos, muitos mortos", disse Adel Mohamed Saleh

Há relatos de que pilotos teriam desertado para a ilha de Malta porque não queriam disparar contra a multidão.

O jornal "Quryna" relatou que mercenários atiraram contra manifestantes, provocando muitas mortes. Uma mulher teria sido morta dentro de sua própria casa.

O secretário de Relações Exteriores britânico, William Hague, afirmou mais cedo que Kadhafi poderia estar se dirigindo para a Venezuela, mas uma fonte do governo em Caracas negou a informação.

Várias cidades do país, entre elas Benghazi e Syrte, estão dominadas por manifestantes, depois de relatos de deserções nas fileiras do Exército e da polícia, segundo testemunhas e a Federação Internacional de Direitos Humanos.

"Muitas cidades foram tomadas, principalmente no leste. Os militares estão debandando", disse a presidente da FIDH, Souhayr Belhassen, citando principalmente Benghazi, reduto da oposição, e Syrte, cidade natal do coronel Kadhafi, que preside o país desde 1969. Outras testemunhas, no entanto, desmentiram que Syrte tivesse sido tomada.

A polícia debandonou no domingo de Zauia, a 60 km a oeste de Trípoli, e a cidade está mergulhada no mais completo caos, informaram vários tunisianos que fugiram para Ben Guerdan (Tunísia), perto da fronteira entre os dois países.

Protestos também estouraram na cidade de Ras Lanuf, que abriga uma refinaria e um complexo petroquímico, segundo o jornal "Quryna".

Em Tobruk, perto da fronteira com o Egito, dez egípcios morreram baleados por "grupos armados de mercenários líbios", disse à France Presse um médico egípcio, citando compatriotas que fugiram do país em conflito.

O grupo petroleiro italiano ENI, principal produtor estrangeiro na Líbia, anunciou em Milão que vai retirar seu pessoal "não essencial" do país.

Ao mesmo tempo, pelo menos três diplomatas líbios renunciaram a seus cargos, e vários líderes tribais e religiosos aderiram à revolta popular.

Uma coalizão de líderes muçulmanos líbios emitiu uma declaração dizendo que é obrigação de todo o muçulmano se rebelar contra o governo líbio.

"Eles demonstraram total impunidade arrogante e contínua, e até mesmo intensificaram seus crimes sangrentos contra a humanidade. Portanto, eles demonstraram total infidelidade à orientação de Deus e Seu amado Profeta (que a paz esteja com ele)", disse o grupo, chamado de Rede dos Ulemas (sábios religiosos) Livres da Líbia.

O ministro da Justiça, Mustafa Abdeljalil, pediu demissão em protesto contra a "situação sangrenta" no país, também segundo "Quryna". O jornal afirmou ter conversado com o ministro por telefone. Não havia confirmação oficial.

Milhares de pessoas vêm protestando nos últimos dias na região leste do país contra Khadafi. O acesso à informação é difícil, e os dados são frequentemente contraditórios.

Saif al Islam, filho de Kadhafi, anunciou a criação de uma comissão para investigar a violência, presidida por um juiz líbio, segundo a TV estatal. Mais cedo, ele tinha dito que Khadafi vai combater a revolta popular "até o último homem em pé", depois que oposicionistas realizaram pela primeira vez manifestações na capital, Trípoli.

A TV estatal afirmou que está havendo uma operação contra "sabotadores e terroristas", com vários mortos, mas não entrou em detalhes.

"Nosso moral está elevado, e o líder Muammar Khadafi está comandando a batalha em Trípoli. Nós estamos por trás dele, assim como o Exército líbio", afirmou. "Vamos continuar lutando até o último homem que estiver de pé, até mesmo à última mulher que estiver de pé (...). Não vamos deixar a Líbia para os italianos ou para os turcos."

Na noite de domingo, a multidão saqueou o prédio do canal televisão Al-Jamahiriya 2 e da rádio Al-Shababia, ambas públicas.

A programação dos veículos, interrompida durante a noite, foi retomada nesta segunda-feira.

Testemunhas também informaram incêndios em delegacias, escritórios de comitês revolucionários (ligados ao regime) e uma área de reuniões oficiais no centro da cidade, onde foram ouvidos intensos tiroteios.

Saída

Os EUA pediram nesta segunda que todo seu pessoal diplomático não essencial deixe a Líbia e alertou cidadãos americanos a evitar viajar para o país do norte da África por conta dos protestos antirregime.

Mais de 2.300 tunisianos residentes na Líbia abandonaram o país desde domingo por razões de segurança, informou a agência oficial tusinisiana TAP. A maioria decidiu voltar de maneira espontânea, já que consideram que a situação vai piorar na Líbia.

A Itália decidiu decretar alerta máximo em todas as suas bases aéreas depois que dois aviões militares líbios e dois helicópteros civis aterrissaram em Malta depois dos atos de violência na Líbia, indicaram fontes da imprensa local.

Fonte: G1

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