Cardápio para viagem à Marte, já em estudo
A cienitsta Maya Cooper mostra uma pizza vegetariana deselvolvida pela
equipe, uma das opções de alimentação proposta à Nasa para os
astronautas viajando a Marte/Michael Stravato/Associated Press
Em meio a um labirinto de corredores de um prédio construído na década de
1950 e que abrigou pesquisas do início da exploração espacial americana, um
grupo de cientistas vestidos de jaleco branco cozinha, mistura, mede e, mais
importante, experimenta o resultado dessa culinária.
A missão deles: elaborar um cardápio para uma possível viagem a Marte,
planejada para os idos de 2030.
O menu deve alimentar entre seis e oito astronautas, mantendo o grupo
saudável e feliz, além de também oferecer uma ampla variedade de alimentos. Uma
tarefa que não é simples, considerando que a missão levará seis meses só para
chegar ao planeta vermelho. Depois, os astronautas ainda devem ficar mais 18 meses por lá, antes de,
finalmente, encararem os seis meses da viagem de retorno à Terra.
O tamanho do desafio? É só imaginar uma família tendo que fazer todas as
suas compras de alimentação de uma vez só, tendo o suficiente para preparar
todas as suas refeições para um período de três anos.
"Marte é diferente disso apenas porque está muito longe", disse
Maya Cooper, pesquisadora sênior do Lockheed Martin que está conduzindo os
esforços para criar o cardápio. "Nós não temos a opção de enviar um veículo com mais comida a cada seis
meses, como nós fazemos na Estação Espacial internacional), diz ela.
Os astronautas que viajam à ISS tem uma grande variedade de alimentos
disponíveis. São mais de cem opções diferentes. Quase tudo é pré-cozido e
liofilizado (uma técnica especial de desidratação), tendo uma vida útil de pelo
menos dois anos. E, apesar da tripulação poder experimentar e aprovar a comida
ainda na Terra, a microgravidade faz com que a percepção de cheiro e sabor
fique prejudicada. ou seja, a comida é sem graça.
Em Marte, no entanto, há um pouco de gravidade, permitindo à Nasa considerar
mudanças significativas no atual cardápio espacial. E é aí que a equipe de
Cooper entra,
Viajar a Marte abre a possibilidade de que os astronautas consigam fazer
coisas como cortar vegetais e até cozinhar um pouco por conta própria. Muito
embora os níveis de pressão sejam diferentes dos da Terra, os cientistas
acreditam que será possível até ferver a água em uma panela de pressão.
Uma das opções que Cooper e seus companheiros estão considerando é que os
astronautas cuidem de uma "estufa marciana". Eles teriam uma
variedade de frutas e vegetais --desde cenouras a pimentões-- em uma solução
hidropônica, significando que as plantas seriam cultivadas em uma solução
nutritiva de água, e não em vasinhos com terra.
A tripulação iria cuidar desse jardim e então usar esses ingredientes,
combinados a outros --como castanhas e temperos levados da Terra-- para fazer
suas próprias refeições. "Esse cardápio é positivo porque permite que os astronautas realmente
tenham plantas vivas e cultivadas, o que permite uma entrega de nutrientes
otimizada com frutas frescas e vegetais. E isso permite que eles tenham
liberdade de escolha sobre o que eles cozinharão para se alimentar, porque a
comida não está pré-cozida em uma receita específica", disse Cooper.
A maior prioridade é garantir que os astronautas consigam a quantidade
correta de nutrientes, calorias minerais para manter a a saúde física e sua
capacidade de performance na missão, avalia a cientista.
O cardápio também deve garantir a saúde psicológica do grupo, considerando
que estudos demonstraram que o consumo de certos alimentos --como bolo de carne
com purê de batatas ou peru no dia de Ação de Graças-- melhora o humor das
pessoas e lhes dá satisfação.
Essa "conexão com o lar" será crucial para os astronautas na
missão para Marte, e já existem dois estudos acadêmicos em andamento querendo
analisar mais fundo a conexão entre humor e a comida. Além disso, diz Cooper, a
deficiência de certas vitaminas e minerais também pode prejudicar o cérebro.
O time da cientista já desenvolveu cerca de cem receitas, todas
vegetarianas, uma vez que os astronautas não terão leite ou carne à disposição.
Não é possível preservar esse produtos por tempo suficiente para a viagem à
Marte. "E levar uma vaca na nave não é uma opção", brinca a cientista.
A comida desidratata que atualmente é usada para as missões de seis messes na Estação Espacial Internacional/Michael Stravato/Associated Press
Para garantir que a dieta vegetariana contenha a quantidade certa de
proteínas, os pesquisadores estão elaborando uma variedade de pratos que
incluem tofu e castanhas, incluindo uma pizza tailandesa, que não tem queijo,
mas é coberta com cenouras, pimentões vermelhos, cogumelos, cebolinha, amendoim
e um molho caseiro que tem um toque apimentado.
Para manter o cardápio funcionando, e tirar o maior proveito de qualquer
pesquisa sobre a sustentabilidade da alimentação em Marte, é possível que a
Nasa escolha apenas um astronauta para se dedicar à preparação dos alimentos.
O tempo que as pessoas no planejamento da missão vão querer que seja gasto
na preparação dos alimentos, porém, permanece incerto. E, por isso, Cooper está
preparando um cardápio alternativo, com refeições pré-embaladas, como já é
feito para as missões de seis meses na ISS, mas com uma vida útil de cinco
anos. A ideia é combinar ambas as opções.
Um dos maiores obstáculos no momento são os possíveis cortes orçamentários.
O presidente Barack Obama cortou, no orçamento proposto em fevereiro, uma
missão robótica a Marte conjunta entre os EUA e a Europa. O restante do
orçamento da Nasa também foi reduzido.
Michele Perchonok, cientista de alimentação da Nasa, afirma que cerca de US$
1 milhão é gasto por ano, em média, na pesquisa e elaboração do cardápio da
missão a Marte.
A viagem ao planeta vermelho é importante porque fará aos cientistas a
chance de realizar pesquisas únicas em todos os aspectos. Desde procurar novas
formas de vida até buscar as origens da vida na Terra. Ela também permitirá que
os cientista da alimentação examinem questões como a sustentabilidade.
"Como nós sustentamos uma tripulação reciclando 100% de tudo por dois anos
e meio?", pergunta Perchonok,
Mas, antes de tudo: nada disso acontecerá sem comida
Fontes: FOLHA DE S PAULO - NASA - Agências