Air comet quebra e deixa milhares pelo caminho
Passageiros da Air Comet aguardam em aeroporto; quebra afeta 1.500 brasileiros/Susana Vera/Reuters
O sonho de passar as festas de Natal e Ano Novo no Brasil virou um pesadelo para 1.500 brasileiros com passagens da companhia aérea espanhola Air Comet. A empresa foi declarada em falência nesta quarta-feira pelo governo espanhol, que retirou a licença de operações e deixou os 7.000 passageiros da empresa sem voos.
A situação nos saguões do aeroporto de Barajas em Madri é de caos.
Nenhum dos 13 aviões da Air Comet com destino a 14 países, a maioria da América Latina e levando imigrantes que voltariam para passar as festas com suas famílias, tem permissão para sair.
Os voos semanais para Natal e Fortaleza estão na lista dos cancelados, com mais de 1.500 brasileiros prejudicados, segundo as estimativas da Federação Espanhola de Associações de Agências de Viagens, que contabiliza a emissão de passagens.
"Um desastre para todos. Os imigrantes que pagaram suas passagens com a ilusão de estar com seus familiares e as agências assumiram os custos e se responsabilizaram por estes passageiros", disse à BBC Brasil o presidente da Federação Espanhola de Agência de Viagens (FEEAV), Rafael Gallego.
"Estamos com as linhas de telefone congestionadas, explicando aos passageiros que nós também fomos pegos de surpresa. E o pior é que não temos soluções para oferecer."
Aviões fretados
Os brasileiros têm, no momento, poucas perspectivas de viajar.
Em uma resposta de emergência, o Ministério do Fomento espanhol se comprometeu a fretar aviões e tentar encaixar a maioria dos passageiros em voos de outras companhias locais, como a Ibéria e Air Europa.
Mas já avisou que não será possível levar todo mundo porque as vagas são insuficientes devido ao habitual alto volume de passageiros da época.
O plano de emergência funcionará entre os dias 23 e 26. Serão 3.500 vagas em quatro aviões para Buenos Aires (Argentina), Bogotá (Colômbia), Quito e Guayaquil (Equador), destinos da maioria dos passageiros. Outras 3 mil passageiros serão encaixados em voos regulares da Ibéria para outros destinos ainda não anunciados.
Combustível
Segundo o Ministério do Fomento, a empresa tem uma dívida que supera os R$ 100 milhões, incluindo os salários atrasados de 640 funcionários que não recebem há seis meses.
O governo disse que retirou a licença de operações porque a companhia não tinha viabilidade nem para garantir o combustível dos aviões.
Os primeiros informados de que os voos não sairiam deveriam ter embarcado na madrugada do dia 22. Mas passaram a noite no saguão do aeroporto de Barajas sem hotel, comida, bebida, informação, nem soluções.
Os guichês da Air Comet permaneceram fechados e os passageiros revoltados protestaram, bloqueando com malas um dos acessos ao Terminal Um de voos internacionais.
Os passageiros que já saíram da Espanha e tem passagens de volta da companhia também estão sendo prejudicados.
'Argentinos primeiro'
O governo calcula em torno de 1.500 impedidos de viajar por dia nesta semana. E sem explicar os critérios, escolhe quais casos são mais urgentes na hora de definir quem usará as vagas extras.
"Aqui tem gente que está há anos sem ver sua família. É um desespero. Se for preciso, faremos uma greve de fome porque estamos arrasados", disse à BBC Brasil Ignacio Beltrán, presidente da Associação Latino-Americana de Imigrantes, ele próprio também prejudicado.
"O que ninguém entende é porque para alguns lugares saem antes que outros. Porque vão os argentinos primeiro? Aqui estamos todos mal, somos imigrantes que compramos passagens baratas e com sacrifício."
A associação de Consumidores e Usuários de Transportes Aéreos e Viagens Combinadas (Acutav) propõe uma ação coletiva contra a Air Comet.
"O consumidor se sente impotente e não sabe claramente o que pode fazer num caso desses", disse à BBC Brasil o presidente da Acutav, o advogado Dan Miró.
"Como um imigrante que passou meses preparando esta viagem, não sabe quando poderá voltar a planejá-la e fica sem reencontrar sua família pode estar agora? Vamos pedir indenizações pelos danos morais também", acrescentou.
A associação até já criou um site para os prejudicados pela companhia aérea.
Pelas cifras da Agência Espanhola de Aviação Civil, há em torno de 1.200 mil brasileiros que entram e saem do aeroporto de Barajas em 12 voos diários. Um número que aumentou em 324% em 2001.
A Air Comet chegou a estar proibida de voar sobre território brasileiro em novembro por outra dívida com as autoridades aéreas do Brasil, mas recuperou a licença no passado dia 27.
A embaixada do Brasil em Madri disse não ter informações sobre o incidente no aeroporto.
Clientes Air Comet embarcam em Madri; quebra afeta 1.500 brasileiros
Clientes da companhia aérea espanhola Air Comet --que parou de operar após ir à falência nesta semana-- começaram nesta quarta-feira a embarcar em voos, dentro de um plano especial lançado pelo governo da Espanha para atender aos prejudicados pela quebra.
Ao todo, 7.100 passageiros ficaram sem voo com o fechamento da companhia --entre eles, cerca de 1.500 brasileiros. Nesta quarta-feira, aproximadamente 900 deles começaram a embarcar nos dois primeiros voos previstos no plano de contingência orquestrado pelo governo espanhol, informou o ministério dos Transportes da Espanha em um comunicado.
Entre estes primeiros, 477 deveriam viajar da Espanha com destino a Buenos Aires às 21h (18h de Brasília). Outros 390 embarcariam para Lima às 23h55 (20h55 de Brasília).
Um terceiro voo com destino a Bogotá partirá às 01h30 (22h30 de Brasília), e um quarto para Quito, ainda sem horário definido. Os passageiros estão sendo escolhidos de acordo com critérios estabelecidos pelo ministério dos Transportes.
"O primeiro (critério) são as pessoas que estão em trânsito, o segundo é a necessidade da viagem, e o terceiro são as pessoas em trânsito que estão aceitando viajar antes do dia 26 de dezembro", explicou nesta quarta-feira a secretária dos Transportes, Concepción Gutiérrez.
Segundo Gutiérrez, no entanto, este dispositivo de emergência --que custará 6,3 milhões de euros (cerca de R$ 15,8 milhões) --é destinado apenas aos passageiros imediatamente afetados pela quebra da Air Comet.
"Se uma pessoa reservou seu bilhete para o verão, terá que entrar com reclamação econômica contra a companhia que não cumpriu com suas obrigações", informou a secretária.
Dezenas de passageiros da Air Comet continuam a aguardar no aeroporto de Barajas, em Madri, em busca de informações, e esperando para embarcar em um dos voos especiais.
Quebra
Um juiz britânico proibiu a companhia de voar em resposta a um processo judicial apresentado pelo banco alemão Nord Bank, para o qual a companhia deixou de pagar os 25 milhões de dólares (cerca de R$ 44 milhões) emprestados para o aluguel de aviões.
A decisão precipitou o fechamento da empresa, que já passava por uma grave crise, e cujos funcionários estavam em greve para exigir o pagamento de salários atrasados.
Apesar disso, o presidente da Air Comet, Gerardo Díaz Ferrán, afirmou que a companhia
"era bem administrada", mas que a falta de crédito e a sentença ocasionaram a falência.
Ele disse ainda ter ficado
"surpreso" com a decisão do juiz que proibiu a empresa de voar. No entanto, admitiu que a companhia tinha problemas para pagar o "leasing" dos aviões, assim como o combustível das aeronaves, mas insistiu que
"era viável manter a empresa".
Segundo Díaz Ferrán, no início de dezembro, foi fechado um acordo de venda da Air Comet para o grupo holandês Air Transport, do empresário Arnold Leonora, que havia se comprometido a efetuar um primeito pagamento de 90 milhões de euros (cerca de R$ 227 milhões).
Fontes: FOLHA - BBC - Reuters - Efe