Argentina quer destruir carga de avião dos Estados Unidos

Críse se aprofunda

Imagem de arquivo mostra avião cargueiro da Força Aérea dos EUA inspecionado e barrado pela Argentina/Manan Vatsyayana/AFP

O governo argentino deu nesta quarta-feira mais um passo na crise diplomática com os Estados Unidos pela apreensão de parte da carga de um avião militar americano, ao advertir que as leis do país consideram a possibilidade de destruir o material ilegal. Washington exige a devolução da carga.

O Código Alfandegário argentino assinala que "caso se declarar uma importação e transportar outro material, é atribuição da Alfândega confiscar o material e dispor dele até chegar a sua própria destruição", afirmou nesta quarta-feira o chefe de gabinete argentino, Aníbal Fernández, em declarações à emissora oficial "Rádio Nacional".

Fernández apontou que o avião militar americano cometeu uma "infração alfandegária" ao entrar no país com material não declarado e insistiu que a Argentina "há de cumprir a lei no marco da soberania nacional".

De acordo com a versão argentina, a apreensão aconteceu porque a lista da carga adiantada pelos EUA não correspondia com a carga real.

Os Estados Unidos reivindicaram a devolução do material e o governo expressou estar "perplexo" pelo incidente com a Argentina.

O juiz argentino, Rafael Caputo, resolveu nesta quarta-feira que 22 funcionários da Alfândega, Administração de Remédios, Alimentos e Tecnologia Médica, Registro de Armas, Polícia Federal e Polícia de Segurança Aeroportuária da Argentina entraram na qualidade de testemunhas.

Estes funcionários deverão se apresentar entre esta quinta-feira e a próxima terça, informou o Centro de Informação Judicial.

CRISE DIPLOMÁTICA

Ontem (15), Fernández acentuou ainda mais a tensão entre os dois países ao acusar o subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina, Arturo Valenzuela, de ter mentido sobre o material que seria transportado para o país sul-americano.

A crise começou na quinta-feira (10), quando o avião militar C-17 Globemaster III, das Forças Armadas dos Estados Unidos, que chegava com armamentos para treinar um grupo de elite da Polícia Federal argentina, foi retido no aeroporto de Ezeiza.

Depois que a confusão veio a público, Valenzuela exigiu a devolução da carga confiscada e qualificou de "vergonhosa" e "desmesurada" a reação da Argentina depois da apreensão.

REAÇÃO ARGENTINA

"Se você ver o informe que Valenzuela publicou por escrito, lá diz que a visita foi totalmente acertada com o Ministério da Segurança, e isso não é verdade", disse Fernández à Rádio 10.

Segundo ele, o que foi aprovado foi um informe enviado em dezembro que, se confrontado com os materiais enviados, há itens não declarados.

Em reação, o chefe de gabinete argentino afirmou que "a realidade é que entre o material apreendido encontram-se armas, drogas, doses de morfina, GPS muito sofisticados, elementos tecnológicos e drogas médicas vencidas. Isso é o que foi apreendido".

Em defesa da operação que causou o conflito, ele acrescentou: "Quando se quer entrar na Argentina com este tipo de elemento, é necessário impedir e confiscar. Não pode entrar o que eles desejam. Nosso país é um pouco mais sério do que isso. O governo argentino cumpre a lei".

Ele ainda negou que o novo incidente diplomático com os Estados Unidos tenha sido deliberado. "Nem existe um incidente diplomático deliberado nem as expressões de Valenzuela são muito felizes porque não dão conta de tudo o que ocorreu", disparou.

PEDIDO DE DESCULPAS

A Casa Rosada, por meio da Chancelaria argentina, apresentou um protesto formal à embaixada norte-americana na qual exigiu um pedido de desculpas, advertiu que não devolverá o material apreendido e pediu colaboração do governo de Obama com a investigação.

Por fim, justificou que o confisco da carga aconteceu porque ela era "suspeita" e também por razões de segurança e prevenção de terrorismo. Os exercícios conjuntos entre Washington e a Polícia Federal são realizados desde 2009.

Segundo fontes oficiais, os Estados Unidos financiam este tipo de treinamento na maior parte dos países do Ocidente. As práticas incluem provas de tiro, simulação de resgate de sequestrados e técnicas na luta contra o terrorismo.

Fontes: FOLHA DE S PAULO - Agências

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