Pela primeira vez na história, um grupo de astrônomos conseguiu colher informações sobre a atmosfera de um planeta fora do Sistema Solar que entra na categoria das chamadas Super-Terras. É o mais perto que conseguimos chegar até agora de analisar o ar de um análogo de nosso próprio mundo.
Astros dessa classe não têm correspondente nas redondezas do Sol. Por aqui, há basicamente dois tipos de planeta: os rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) e os gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Os primeiros são pequeninos, e os segundos, enormes.
Já as Super-Terras parecem estar no meio do caminho entre uma categoria e outra, com massa duas a dez vezes a terrestre. Mas como nunca vimos nada sequer parecido na vizinhança, é difícil dizer como de fato são esses mundos --e se podem ser habitados.
Um passo importante para tentar determinar isso é analisar a atmosfera desses planetas. Isso se torna possível quando eles estão alinhados de tal modo que periodicamente passam à frente de suas estrelas. Nessas ocasiões, parte da luz emanada dela passa de raspão pela camada de ar que recobre aquele mundo e chega até nós carregando uma "assinatura" do que encontrou pelo caminho.
Ilustração mostra planeta catalogado como GJ 1214b, que orbita uma anã vermelha (estrela menor que o Sol)/L. Calcada/AFP
SER OU NÃO SER
As observações colhidas pelo grupo de Jacob Bean, do Centro Harvard-Smithsoniano para Astrofísica, em Cambridge, Estados Unidos, se referem ao planeta catalogado como GJ 1214b. Ele orbita uma anã vermelha (estrela menor que o Sol) a cerca de 42 anos-luz, e completa uma volta a cada dia e meio terrestre.
Dada a proximidade com sua estrela, é quase certo que seja quente demais para ser habitável. Mas, fora isso, ninguém se arrisca a dar um palpite. Há quem sugira que se trata de um planeta-água que se formou nas regiões mais externas do sistema e migrou para mais perto de seu sol mais tarde (tornando-se algo como um "planeta-vapor"). Outros dizem que ele deve ser uma versão miniaturizada de Urano e Netuno, com densa atmosfera composta por hidrogênio.
Bean e seus colegas fizeram duas sessões de observação com o VLT, maior telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile, e concluíram... bem, eles não concluíram o que esse mundo deve ser. Mas conseguiram determinar o que ele não é.
É certo que a atmosfera de GJ 1214b não pode possuir grandes quantidades de hidrogênio e ao mesmo tempo ser livre de nuvens.
MODELOS
Pouco hidrogênio pareceria descartar a ideia de que se trata de um Netuno miniatura. Mas não é bem assim. "O planeta ainda poderia ser um mini-Netuno com uma densa camada de nuvens na porção superior de sua atmosfera", disse à Folha Jacob Bean.
Não é a hipótese mais provável, pelo simples fato de que ninguém até hoje criou um modelo de como poderia haver um planeta desse tipo, com essa densa camada de nuvens e o hidrogênio oculto sob si, indetectável. "Mas não podemos descartá-la", completa Bean.
Uma explicação mais plausível no momento seria a de uma atmosfera dominada por vapor d'água. Ela é bastante compatível com as observações, mas também não dá para dizer que é isso. Faltam dados conclusivos.
Resumo da ópera: ainda sabemos muito pouco sobre esse mundo em particular e menos ainda sobre Super-Terras em geral. Mas isso pode mudar rapidamente.
"Observações do GJ 1214b já foram agendadas para o Telescópio Espacial Hubble", aponta Drake Deming, do Centro Goddard de Voo Espacial, da Nasa, que comentou o estudo na última edição do periódico "Nature", a mesma em que ele foi publicado. O pesquisador acredita que os resultados poderão dar mais pistas sobre se estamos falando de uma atmosfera com uma densa camada de nuvens ou não.
E as coisas vão ficar ainda melhores, segundo ele, quando o Telescópio Espacial James Webb, o sucessor do Hubble, estiver no espaço. Ele será capaz de determinar com muito mais precisão a composição do ar desse mundo. O duro é esperar; a Nasa estima que seu lançamento ocorra em 2015.
Fontes: Salvador Nogueira/FOLHA- Agências
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