O presidente da Embraer, Frederico Curado, ataca a falta de transparência por parte da China em seus subsídios à produção de aviões e prevê que, para a década de 2020, os chineses serão uma ameaça real para as empresas ocidentais do setor aéreo.
Em entrevista ao Estado na cidade de Montreux, nos Alpes suíços, Curado confirmou os problemas existentes em sua fábrica na China. Segundo ele, se a empresa brasileira não vender nenhum novo avião ao mercado chinês até março de 2011, será obrigado a "repensar" a estratégia no país.
Curado, porém, insiste que uma decisão final de fechar a fábrica ainda não foi tomada, tem esperanças de encontrar uma solução e garante que os governos estão envolvidos nas negociações. "Estamos aguardando. Estamos no meio da conversa", disse. "Temos até março para acabar o contrato na China e estamos esperando uma definição do governo chinês."
A Embraer fabrica desde 2003 os aviões ERJ-145 em sua fábrica na China, em parceria com a Aviation Industries of China (Avic). O acordo com os chineses era de que a Embraer abriria a planta de produção e, em troca, os chineses se comprometeriam a comprar os aviões.
Mas, nos últimos anos as vendas se estagnaram, enquanto o governo chinês passou a dar prioridade ao desenvolvimento de suas próprios modelos. "Em março teremos nossa última entrega. Se não vendermos aviões para entregar além de março, ai de fato não teremos atividades", admitiu Curado, sem dar uma resposta definitiva se a fábrica seria fechada ou não. Mas apontou: "Você não vai manter uma fábrica aberta sem produto."
O presidente da Embraer explicou que isso não significa que a Embraer abandonaria a China. "Não vamos fechar a empresa (na China) de jeito nenhum. Temos uma frota grande na China e precisamos apoiar essa frota", explicou.
Críticas
Se a Embraer ainda tem esperanças de manter sua fábrica na China, Curado deixa claro que a questão do apoio governamental dado por Pequim ao setor aeroespacial precisará ser alvo de um debate internacional. "A China será um competidor fortíssimo para a indústria ocidental inteira a partir da próxima geração de aviões, para a década de 2020", alertou.
"O que preocupa muito é o suporte governamental existente na China, algo difícil até de compreender. São empresas estatais. No nosso caso, são empresas privadas, que operam nas regras de mercado", disse.
Curado defendeu chamar a China para fazer parte de um acordo global, estabelecendo de que forma governos podem ou não dar subsídios à produção de aviões. "A China é parte da Organização Mundial do Comércio (OMC) e precisa estar envolvida nisso. Todos desenvolveram suas próprias tecnologias e hoje essa falta de clareza (na China) preocupa", disse.
Há décadas as empresas da Europa, Estados Unidos, Canadá e até do Brasil se enfrentam em tribunais por conta de acusações de subsídios ilegais para a produção e exportação de jatos, distorcendo a concorrência mundial. Com a chegada da China ao mercado, o apelo é para que Pequim também siga as regras da OMC de limitar os subsídios.
Hoje, a cúpula da indústria europeia indicou, em um evento sobre o mercado de defesa em Montreux, na Suíça, temer que engenheiros chineses que trabalham nas plantas das indústrias europeias na China tenham maior lealdade ao governo que às empresas que os contratam.
Fonte: O ESTADO DE S PAULO/Jamil Chade
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