O destino do Campo de Marte

No próximo mês será lançado edital para a construção da estação paulistana do trem de alta velocidade (TAV), que ligará Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro, e que deverá estar pronto em 2014. Prazos exíguos tornam urgente uma alternativa para os pousos e decolagens da aviação executiva que opera no Campo de Marte, localizado na zona norte de São Paulo, que será desativado por ter sido escolhido pelo governo federal para abrigar as plataformas de embarque e desembarque, oficinas e pátios de manobras do trem de alta velocidade. Além da nova estação, o projeto desenvolvido pela consultoria britânica Halcrow, a pedido do governo brasileiro e escolhido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), inclui também a expansão do Centro de Convenções do Anhembi e a construção de um parque público.

Foi projetada uma linha de 510 quilômetros de extensão, com 91 quilômetros de túneis e 107 pontes. Orçado em R$ 34,6 bilhões, o TAV se destina a absorver o grande aumento da demanda de transporte que surgirá com os jogos da Copa do Mundo de 2014. O Campo de Marte registra atualmente, em média, 283 operações de pousos e decolagens por dia - 64% realizadas por helicópteros.

A Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), que reúne as empresas de taxi aéreo, se preocupa com o futuro do setor, e não só pelo problema do Campo de Marte. Nos últimos anos, a operação da aviação executiva tem sofrido com a redução crescente da infraestrutura disponível. Após o acidente com o A320 da TAM, em Congonhas, há dois anos, foram impostas limitações aos pousos e decolagens da aviação executiva que diminuíram de dez para quatro por hora no Aeroporto de Congonhas.

Também no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em Cumbica, jatos executivos agora só podem pousar se alguma companhia aérea cancelar o pouso de um dos seus aviões. E, quando pousam, aviões particulares só têm autorização para permanecer por duas horas no solo.

No primeiro semestre de 2007, antes do acidente da TAM, o número de pousos e decolagens no Campo de Marte foi de 7.559 por mês. No mesmo período de 2008, após a limitação em Congonhas, o volume de operações mensais subiu para 8.475, e em julho do ano passado chegou a 9.564. Com apenas 21 hangares, o Campo de Marte não comporta mais os aviões que precisam estacionar. Assim, pretende-se transferir a aviação executiva para cidades do interior. Conforme o projeto do governo federal, já acertado com a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado, o Aeroporto Estadual Comandante Rolim Adolfo Amaro, em Jundiaí, a 60 quilômetros da capital, seria a primeira opção. A Abag adverte, no entanto, que a saturação também é grande em Jundiaí.

Entre os aeroportos administrados pelo Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp), é o de Jundiaí que registra o maior número de pousos e decolagens no interior de São Paulo (Viracopos, em Campinas, está sob a competência da Infraero). No ano passado, foram 38.701 operações, 80% a mais do que em 2007. No Aeroporto de Sorocaba, segundo colocado, houve 29.560 pousos e decolagens.

Em dezembro passado, uma nova torre de controle foi inaugurada no aeroporto de Jundiaí para aumentar a segurança no polígono do espaço aéreo de Congonhas, Viracopos, Guarulhos, São José dos Campos, Sorocaba, Bragança e Campo de Marte.

O setor de aviação executiva lembra, porém, que os hangares e as áreas de taxiamento do aeroporto de Jundiaí estão muito próximos das pistas de pouso e decolagem, comprometendo a segurança de operações realizadas por aviões com envergadura um pouco maior, usados na aviação particular.

É inegável a importância da operação de um trem de alta velocidade no eixo Campinas-São Paulo-Rio - projeto há muito defendido por urbanistas e especialistas em transporte. Mas, se o Aeroporto de Jundiaí for o destino escolhido para a aviação executiva, é necessário planejar a sua ampliação com igual urgência.

Fonte: ESTADO

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