Air France sabe mais do que divulgou, dizem especialistas

RICARDO SANGIOVANNI

O avião que desapareceu no Atlântico tem um sistema que transmite por satélite à empresa aérea dados sobre os principais componentes da aeronave no decorrer do voo. Isso leva alguns especialistas a crer que a Air France tem mais informações do cenário da queda do A330 do que as que já divulgou --e que podem ajudar a entender as causas do acidente.

Esses dados, porém, não substituem a caixa-preta do avião. Por dois motivos, principalmente: 1) a conversa entre os pilotos na cabine da aeronave, que fica gravada na caixa-preta, não é transmitida; e 2) o conjunto de dados sobre o avião não é tão completo quanto o que a peça armazena.

Mas a companhia aérea tem condições de saber informações como consumo de combustível e de óleo, temperatura e potência dos dois motores e até a inclinação do avião, segundo afirma Respicio do Espírito Santo, especialista em aviação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Foi esse sistema, que existe em alguns aviões mais modernos, que transmitiu a informação de pane elétrica e de despressurização na aeronave.

O especialista em segurança de voo Jorge Barros diz que esse envio de dados é feito em tempo real e que, por isso, "a Air France provavelmente já tem todas as informações".

Mas Adalberto Febeliano, professor da Anhembi-Morumbi, diretor da companhia aérea Azul, e Moacyr Duarte, pesquisador da Coppe-UFRJ, ressaltam que essas informações não substituem as da caixa-preta.

"Elas podem ajudar, mas não é a mesma coisa", diz Febeliano, acrescentando que esse sistema tem ajudado as empresas principalmente com informações úteis para a operação --por exemplo, saber do nível de óleo do motor para uma troca logo depois do pouso.

A caixa-preta (a cor dela geralmente é laranja, mas as primeiras eram negras, daí a sua denominação) tem um tamanho semelhante ao de uma caixa de sapatos. É feita com capacidade para suportar um impacto de 2,25 toneladas e temperaturas de mais de 1.000ºC durante 30 minutos.

Ela é composta de um gravador de voz (CVR, Cockpit Voice Recorder), que grava a conversa da cabine dos últimos 30 minutos, e um gravador de dados do voo (FDR, Flight Data Recorder). Este segundo componente tem sensores que registram parâmetros do avião como direção, altitude, aceleração, controle do manche, dos pedais, movimento do eixo da nave e performance do motor.

Embora tenha um dispositivo que emite um sinal localizador debaixo d"água, alguns especialistas temem que ela não seja encontrada porque a área do desaparecimento do Airbus-A330 é de águas profundas, onde esse sinal pode se perder.

Parte dos técnicos avalia que, sem a caixa-preta, a investigação nunca chegará a uma conclusão sobre a causa do acidente. Porém as informações desse sistema por satélite podem ajudar a tentar saber mais sobre os momentos anteriores ao desaparecimento do avião.

Caixas-pretas do avião da Air France podem não ser recuperadas

As caixas-pretas do Airbus-A330 da Air France que caiu no oceano Atlântico podem nunca ser encontradas, segundo afirmou nesta quarta-feira Paul-Louis Arslanian, chefe da agência francesa de investigações sobre acidentes aéreos.

Arslanian disse não estar "otimista" sobre a possibilidade de as caixas pretas serem recuperadas.

Os primeiros destroços do avião foram localizados na terça-feira pela Força Aérea Brasileira a cerca de 650 km de Fernando de Noronha. Os primeiros destroços incluíam uma grande quantidade de materiais metálicos, mas nenhum corpo foi encontrado.

Durante entrevista na manhã desta quarta-feira em Paris (madrugada no Brasil), Arslanian disse que as circunstâncias do acidente tornam as investigações mais difíceis, mas afirmou que tudo será feito para esclarecer o que aconteceu com o avião, que desapareceu dos radares sem nenhum sinal em meio à rota entre o Rio de Janeiro e Paris.

Arslanian disse ainda que o primeiro relatório sobre as investigações deve ser publicado até o fim de junho.
As caixas pretas são dispositivos que guardam informações sobre o voo e sobre a comunicação entre os pilotos e são usadas para ajudar nas investigações sobre acidentes.

O resgate das duas caixas pretas do avião da Air France pode ser dificultado pela profundidade do mar no local da queda, que poderia chegar a 4.000 metros. Mesmo submersas, as caixas pretas emitiriam um sinal que ajudaria em sua localização, mas apenas durante um período de 30 dias.

Manutenção

As investigações sobre os motivos do acidente devem ser conduzidas pelo governo francês, com o apoio do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), do governo brasileiro.

O voo AF 447 havia deixado o aeroporto internacional do Galeão no início da noite de domingo levando a bordo 216 passageiros e 12 tripulantes.

Segundo Arslanian, os dados já analisados sobre os serviços regulares de manutenção realizados no Airbus acidentado não indicam que o avião tivesse qualquer problema antes da decolagem.

O chefe dos investigadores disse que não haverá especulações sobre as causas do acidente e disse que "é essencial que chequemos e verifiquemos tudo".


Submarino que encontrou Titanic será usado em busca de caixa-preta do avião da Air France

O minissubmarino francês Nautile, usado em operações de busca das carcaças do Titanic, deverá participar do resgate das caixas-pretas do avião da Air France que caiu no Atlântico na segunda-feira.

O Nautile, que também ajudou nas buscas pelo petroleiro Prestige, que causou um desastre ecológico na Europa em 2002, está sendo levado para o local onde os destroços do avião foram vistos, a cerca de 700 km de Fernando de Noronha, pelo navio francês Pourquoi Pas.

O minissubmarino, normalmente operado por dois pilotos e um observador, é equipado com braços motores e pinças e pertence ao Instituto Francês de Pesquisas para a Exploração do Mar (Ifremer, na sigla em francês). Ele deve integrar as operações de busca a pedido do governo francês.

O Nautile foi o primeiro submarino a alcançar a carcaça do Titanic, que estava no fundo do mar desde 1912, depois que o navio foi detectado por sonares franceses no Atlântico Norte.

Desde o início de suas operações, em 1984, o Nautile já realizou mais de 1.500 trabalhos de busca. O submarino pode mergulhar a profundidades de até 6.000 metros.

O ministro francês dos Transportes, Jean-Louis Borloo, solicitou que o navio Pourquoi pas, em missão nos Açores, se dirija imediatamente ao local das buscas para ficar à disposição do núcleo de coordenação do Estado Maior das Forças Armadas da França.

O Pourquoi Pas deve chegar à área em oito dias, disse à BBC Brasil o porta-voz do Estado Maior das Forças Armadas da França, comandante Christophe Prazuck.

A missão do Pourquoi Pas é tentar localizar e recuperar as caixas pretas do avião da Air France.

Com esse navio equipado de um robô e do minissubmarino Nautile, o governo francês quer reforçar os meios mobilizados na realização das buscas.

Caixas pretas

O objetivo prioritário é recuperar as caixas pretas do avião, que emitem sinais durante 30 dias. Para isso, a primeira tarefa será localizar de maneira mais precisa a possível área onde o aparelho caiu, afirma Olivier Lefort, diretor de operações navais do Ifremer.

Segundo Lefort, a área em que foram encontrados destroços do avião vai servir de ponto de partida para calcular o possível o ponto de impacto da nave.

Quando a área em que estão as caixas pretas for localizada, o que pode ocorrer inclusive com a utilização de um sonar, os dois equipamentos a bordo do Pourquoi Pas, o submarino Nautile e o robô Victor, devem ser acionados para recuperá-las.

Na avaliação do diretor do Ifremer, o Nautile, equipado com um sonar lateral, é melhor adaptado às operações de localização, já que o submarino é ocupado por dois pilotos e um observador.

"O olho humano tem maior precisão do que as câmeras de vídeo e de foto do robô", afirma Lefort.
Mas tanto o Nautile quanto o robô não podem serrar a fuselagem do avião, se for necessário.

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