Empresas aéreas do Golfo são uma ameaça, diz Air France

Em Paris, Pierre-Henri Gourgeon, presidente mundial da Air France-KLM, relata ao site de VEJA sua visão sobre a competição das empresas aereas do Golfo Pérsico: "É uma concorrência desleal"

Subvencionadas pelos seus governos, as empresas aéreas do Golfo Pérsico, como a Emirates e a Qatar Airways, avançam na Europa e incomodam os grupos que tradicionalmente operam naquele mercado. “É uma concorrência desleal”, afirmou em Paris o presidente mundial da Air France-KLM, Pierre-Henri Gourgeon, ao site de VEJA. O grupo resolveu reagir e agora pede proteção das autoridades da União Europeia.

Gourgeon: "modelo das companhias aereas do Golfo não é sustentável no longo prazo" (Victor Sokolowicz/Bloomberg)


A Air France-KLM juntou-se a outras companhias no ano passado para cobrar da União Europeia uma reação ao avanço das empresas aereas do Golfo Pérsico. Por quê?

Acreditamos que elas são uma verdadeira ameaça porque são estatais completamente financiadas por seus governos – e estamos falando de nações muito ricas. Eles as ajudam enormemente. Não há cobrança de imposto sobre receita, nem de contribuição previdenciária; essas empresas não pagam o controle aéreo; os aeroportos são construídos pelo estado; e elas não têm de contribuir com quase nada para usufruir das instalações. É assim com a Emirates, a Catar Airways, entre outras. Enfim, são empresas que decidiram não apenas atender os mercados de Dubai e Doha, mas se colocar entre a Europa e a Ásia. Elas querem pegar o trabalho que nós fazemos, pois nossa missão é interconectar o continente europeu com o resto do mundo. E elas ainda vêm até aqui pedir direito de tráfego em nossos países.

O que vocês fazem para brigar com essas companhias?

Aqui na França, especificamente, nós tentamos dizer ao nosso governo: ‘Atenção, não lhes dêem muito direito de tráfego porque essas empresas pegam nosso trabalho – e depois vocês reclamarão que não há uma rede aérea potente em Paris’. Se um país perde essa rede, ele enfraquece. Tudo o que essas companhias querem é assumir nosso trabalho, além de convencer multinacionais para que se instalem em Dubai, e não Paris, Londres ou Frankfurt. Eles querem atrair a riqueza pra eles.

E qual foi a resposta do governo francês?

Ele concedeu direito de tráfego, mas pouco. Felizmente, o governo nos escutou. Essas companhias conseguiram apenas autorizações para rotas no interior do país, o que nos dá tempo de reagir. O estado francês certamente deu menos a elas do que foi pedido.

De qualquer maneira, nada impede que essas aereas do Golfo façam acordos de ‘codeshare’ com as européias.

Sim, mas garanto a você que as companhias europeias não querem. É difícil trabalhar com quem tenta devorá-lo. O crescimento deles é muito rápido, de cerca de 25% ao ano, em grande parte baseado na estratégia de tomar clientes da concorrência. Por isso, eles têm dificuldade em encontrar parceiros.

Custos altos, margens baixas

Mas a literatura econômica diz que é justamente isso que gera benefício aos consumidores: a concorrência. Todos os que cruzam os céus da Europa devem estar muito contentes com este movimento. Não estão?

Num primeiro momento, eu diria que sim. O consumidor sempre gosta de preços baixos e boa qualidade de serviço. O meu ponto é que não acredito que isso seja sustentável no longo prazo. As companhias aéreas do Golfo trabalham com aviões em excesso e, conseqüentemente, muitos lugares vazios. Por terem supercapacidade, oferecem preços menores para atrair público. Contudo, este não é um preço de mercado – ele não se dá em condições normais. Essa companhias só podem fazer isso porque são subvencionadas pelo estado, o que é inaceitável. É uma concorrência desleal. No longo prazo, a meu ver, essas companhias começarão a ter problemas porque este modelo é impraticável. Aí, o consumidor não vai gostar.

Há um novo gigante no céu europeu, fruto da fusão da British Airways e da Iberia. Também não há o temor de que elas tomem seu mercado?

Acredito que essa transação beneficia o mercado. Fomos os pioneiros, com a fusão com a KLM, a mostrar que seria possível realizar este tipo de operação, respeitando as regras nacionais e de trafego aéreo. Foi um exercício muito complicado, mas tivemos sucesso, pois tomamos a precaução de preservar a identidade de ambas. Hoje, com esse negócio da British, aportamos no fim da consolidação europeia. As grandes companhias estão em três polos – Lufthansa, Air France-KLM e British-Iberia. Quando a consolidação avança, surgem concorrentes mais sensatos. Eles são em menor número, mas mais sensatos.

Recentemente, a Air France reduziu as estimativas de ganhos para 2010. Por quê?

Reduzimos nossas estimativas em parte pelos problemas no Egito, Tunísia, Mauritânia e Nigéria. Com os problemas geopolíticos em andamento, há poucos turistas que querem viajar a estes destinos, que são importantes para a Air France, sobretudo a África francófona. Por essa razão, e também pelas greves de controladores de vôo e as tempestades de neve, tivemos de cancelar sete mil vôos no ano passado. Revisamos então nossas estimativas de lucro em 2010 de 300 milhões de euros para zero. Contudo, como havíamos acumulado um prejuízo de 1,3 bilhão de euros em 2009, conseguir recuperar isso já foi algo muito bom.

Fontes: Veja - Agências

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