Caça francês Rafale luta para conseguir sua primeira exportação

Nicolas Sarkozy gosta de se retratar como o presidente executivo.

Ele se vê como chefe de vendas da França promovendo as exportações dos produtos do país, conquistando negócios ao redor do mundo, especialmente com os países emergentes como China, Índia, Brasil e as nações ricas do Golfo. Ele até criou a chamada “sala de guerra” no palácio Elysée para apoiar as exportações civis e militares.

Mas sua imensa estratégia de exportação parece estar passando por dificuldades crescentes. A nova geração do reator pressurizado europeu EPR – que pretendia ser a ponta de lança nas ambições do país em liderar o revivido mercado nuclear mundial – está enfrentando todos tipos de problemas, não apenas na Finlândia, nos EUA e em Abu Dhabi onde perdeu para Coreia do Sul.

Pior ainda, o Eurostar, o operador do trem de alta velocidade no túnel do Canal da Mancha controlado pela SNCF, a empresa de trens estatal da França, acabou de encomendar trens fabricados na Alemanha pela Siemens, ao invés de adquirir o modelo nacional da Alstom. Ainda mais preocupante é a contínua escassez de exportações da aeronave de combate multimissão Dassault Rafale.

A França ainda não venceu nenhuma competição internacional com seu caça Rafale. ele vem tentando por mais de uma década sem sucesso. Assegurar uma encomenda estrageira para a aeronave de combate não é apenas uma questão de prestígio para França. Acima de tudo, Serge Dassault, o veterano acionista majoritário da fabricante que leva seu sobrenome, é também um senador e membro do partido governista e proprietário do jornal francês Le Figaro, totalmente pró-Sarkozy.

Mas existem razões mais importantes porque as exportações do Rafal são tão cruciais. As exportações poderiam reduzir o custo geral do programa ao mesmo tempo que fornece mais verba para ajudar nos investimentos em novas pesquisas e tecnologias. Sem as exportações, existe um risco que a França não tenha mais como garantir a autonomia de sua indústria de aeronaves militares, especialmente quando surgir a época de eventualmente desenvolver um substituto para o Rafale.


O caça Rafale ainda compete nos Emirados Árabes Unidos, no Kuwait e na Índia. (Foto: Eagle)
Por último, mas não menos importante, as falhas na exportações da aeronave de combate aumentará ainda mais a tensão na afetada economia do país. Na verdade, o Ministério de Defesa da França decidiu encomendar 11 caças Rafales adicionais no ano que vem, antes do programado, para garantir que as linhas de produção permaneçam funcionando. Isso irá custar aos contribuintes um extra de €800 milhões (US$1,1 bilhão).

E não é por falta de tentativa do presidente que a França até então tenha falhado em conseguir exportações de caças Rafale. Mas o Presidente Sarkozy também tem a tendência de colocar a carroça na frente dos bois. Ele claramente encontra dificuldade em resistir a anunciar ao mundo que ele finalmente conseguiu uma exportação do caça antes do contrato ser assinado ou antes da entrega.

No ano passado, ele anunciou com grande entusiasmo que a França tinha fechado uma forte relação com o Presidente Luis Inácio Lula da Silva e que o Brasil havia concordado em comprar um primeiro lote de 36 aeronaves de caça Rafaele. Num longo período, a encomenda poderia chegar a 100 aeronaves, Mas 12 meses depois, o acordo ainda não foi finalizado e existem sinais que os brasileiros ultimamente podem estar optando pelo concorrente com a aeronave Gripen da fabricante sueca Saab, ao invés do muito caro Rafale.

O governo brasileiro confirmou esta semana que o Brasil decidiu suspender a decisão final até o final do segundo turno das eleições presidenciais que ocorre no final desse mês. O ministro Nelson Jobim também sugeriu que a competição ainda está aberta. Em outras palavras, a escolha poderá ainda seguir outro rumo.

Na metade do ano, o Presidente Sarkozy também anunciou que os Emirados Árabes Unidos estavam considerando substituir sua antiga frota de 63 caças franceses Mirage pelos modernos Rafale. Mais uma vez, o governo francês estava confiante que tinha finalmente fechado uma exportação para aeronave na região que tradicionalmente era um importante cliente dos equipamentos de defesa da França. Mas este mês, os Emirados Árabes Unidos sugeriram que estavam avaliando o caça norte americano F/A-18 Super Hornet da Boeing como uma alternativa. Então a previsão de sucesso mais uma vez corre o risco de se tornar uma miragem.

Em outros locais, Kuwait e Índia stão avaliando a aeronave de combate mas a competição é mais difícil. Por várias razões. A primeira que o compelxo industrial-militar dos EUA está intensificando as exportações, não apenas para compensar os pesados cortes no orçamento do Pentágono. A segunda é que a Rússia está agora no jogo e assumiu a posição que era da França como terceiro maior exportador de armas do mundo, atrás dos EUA e do Reino Unido. A terceira é um problema somente dos fabricantes europeus.

Em todos esses contextos de exportações, a Europa invariavelmente tem no mercado três ofertas concorrentes – o Eurofighter Typhoon, o Rafale e o sueco Saab Gripen – o que é uma aeronave a mais do que os EUA normalmente oferecem. Com isso, dá aos EUA e a Rússia uma óbvia vantagem. Até os europeus finalmente decidirem consolidar sua indústria de aeronaves de combate, eles apenas vão continuar perdendo altitude.

Fonte: Financial Times – Paul Betts via CAVOK

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