Acordo envolveu 14 pessoas. EUA entregaram a Moscou os dez espiões russos detidos semana passada
Um avião russo que levava agentes de espionagem decolou do aeroporto de Viena nesta sexta-feira (9), na maior troca de espiões entre Rússia e EUA desde o final da Guerra Fria. Um jato alugado pelos americanos que trazia espiões vindos de Nova York saiu minutos antes da cidade. Segundo a agência de notícias Reuters, não se sabe com certeza quantos estavam em cada aeronave, mas o acordo de troca envolveu 14 pessoas no total.
A troca ocorreu após a prisão, na semana passada, de dez espiões russos feita pelo serviço de inteligência americano. Eles se declararam culpados e foram formalmente expulsos do país.
No lugar dos dez agentes russos, os EUA conseguiram a libertação de dois ex-coroneis da inteligência russa que foram acusados de trabalhar para agências ocidentais e dois outros condenados de traição por Moscou.
Avião americano, que acredita-se que leve espiões para a troca com os russos, aguarda no aeroporto de Schwechat, em Viena, enquanto aeronave russa decola ao fundo (Foto: Matthias Schrader/AP)
Oficiais americanos disseram que os libertados pela Rússia estavam sofrendo e que havia preocupações humanitárias para que se conseguisse uma troca rápida. Segundo autoridades, não há benefício nenhum para a segurança nacional manter agentes presos durante tantos anos.
Os dez espiões russos, detidos na semana passada nos EUA, tinham tentado se infiltrar nos subúrbios americanos, mas estavam sendo observados pelo FBI. Eles se declararam culpados na quinta-feira e formalmente expulsos do país.
O tribunal condenou cada um dos suspeitos a um tempo de pena já cumprido --cerca de dez dias desde a prisão do grupo. Outras acusações, de lavagem de dinheiro, foram arquivadas.
Reaproximação
Os russos são suspeitos de terem se radicado nos Estados Unidos para se infiltrar em órgãos públicos. Eles foram detidos no fim do mês passado, em várias cidades do país. Os dois governos tinham interesse em resolver rapidamente o caso, para não atrapalhar o atual momento de reaproximação entre os dois ex-inimigos da Guerra Fria.
Durante a audiência, um dos advogados declarou que as autoridades russas prometeram a uma das pessoas presas, chamada Vicky Pelaez, que ela poderá, após a deportação, viajar da Rússia para qualquer país que desejar, inclusive o Peru, sua terra natal, e que receberá uma verba mensal vitalícia de US$ 2 mil, além de vistos para seus filhos.
Na quarta-feira (7), sob anonimato, uma fonte oficial dos EUA disse que Washington e Moscou estavam negociando a confissão e libertação dos dez espiões a serviço da Rússia, em troca da libertação de certos presos mantidos por Moscou, como um técnico nuclear suspeito de contatos
Aviões russo e americano decolam de Viena após troca de espiões
Um avião russo Yak-42 e um Boeing 767-200 americano partiram de Viena, na Áustria, na manhã desta sexta-feira após a troca de seus passageiros --dez espiões russos detidos nos Estados Unidos por quatro espiões russos detidos na Rússia. A troca, feita longe dos olhares da imprensa, é a maior desde o fim da Guerra Fria.
Avião americano que levaria espiões russos decola depois de passar cerca de uma hora e meia em aeroporto de Viena/Ronald Zak/AP
A Rússia negou vigorosamente saber da rede de espionagem, um grupo que seria denominado "ilegais" por Moscou. Depois, admitiu que alguns dos suspeitos eram efetivamente russos e os dois países passaram a declarar que o caso não afetaria as recém-retomadas relações diplomáticas. Por precaução, os dois países enterraram o assunto com a troca --feita com poucas declarações oficiais.
Os espiões viajaram em um Boeing 767-200 fretado pelas autoridades russas e decolaram do aeroporto de La Guardia, em Nova York, às 22h desta quinta-feira (23h em Brasília). Eles pousaram em Viena, em uma pista pouco utilizada do aeroporto.
Poucos minutos depois, estavam atrás do recém-aterrissado Yakovlev Yak-42, avião do Ministério de Emergências russo, que levaria a bordo os quatro russos presos por suposto contato com agências de inteligência ocidentais.
As escadas de saída das aeronaves foram viradas em direção do prédio principal do aeroporto, impedindo a visualização da troca. Pouco mais de uma hora e meia após o pouso, por volta das 11h15 (6h15 em Brasília), os aviões decolavam tão rápido quanto pousaram.
Não há confirmação do destino dos dois aviões. Mas o Yakovlev Yak-42 deve seguir para Moscou, na Rússia, enquanto o Boeing americano aterrissaria em Londres, no Reino Unido.
Igor Sutyagin, cientista especialista em armas e um dos espiões libertados pela Rússia, disse a parentes que a troca incluía sua viagem a Viena e depois a Londres.
Viena se envolve há tempos com este tipo de acordo. Como capital de um país neutro, a cidade é o palco perfeito para os acordos feitos por Washington e Moscou para reduzir tensões.
GANHOS E PERDAS
Antes da viagem, os EUA e a Rússia ganharam confissões dos réus --admissão de culpa dos dez russos em corte de NY e confissões assinadas dos quatro russos na Rússia.
Em troca dos dez espiões russos, os EUa ganharam a liberdade e acesso a dois ex-coronéis da inteligência russa, condenados em seu país por comprometer dezenas de agentes russos e soviéticos que atuavam no Ocidente. Os dois outros também foram condenados por trair Moscou.
O presidente russo, Dmitri Medvedev, assinou um decreto libertando Sutyagin, Alexander Zaporojski, Guennadi Vassilenko e Sergueï Skripan, detalhou sua porta-voz Natalia Timakova.
Um dos advogados de defesa disse que os acordos para confissão foram aprovados por autoridades do governo russo.
As 11 pessoas suspeitas de espionar para a Rússia foram formalmente acusadas em uma acusação federal divulgada nesta quarta-feira, mais de uma semana após o FBI (polícia federal americana) anunciar a prisão delas.
Fontes: G1- FOLHA - Agências - CNN
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