Voo 447: Antes de cair, avião iniciou meia-volta, confirma BEA

Iniciativa dos pilotos, que havia sido revelada pelo jornal Le Figaro, não poderá ser explicada sem que caixas-pretas sejam recuperadas

Se por um lado os trabalhos de busca estão perto de desvendar o local preciso da queda do voo AF-447, por outro um novo mistério está intrigando os investigadores franceses. Antes de atingir o mar, o Airbus A-330 deu meia-volta e iniciou um trajeto de retorno ao Brasil, contrariando a rota prevista.

A informação foi confirmada pelo Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA), mas só poderá ser explicada se e quando as caixas-pretas forem recuperadas.

O desvio na trajetória foi confirmado pelo local em que os sinais emitidos pelas balizas presas às caixas-pretas foram captados por sonares da Marinha da França. A região se localiza fora da rota habitual dos voos transatlânticos que ligam o Brasil à Europa.

Segundo Alain Brouillard, diretor de investigações do BEA, o dado indica que, entre a emissão da última mensagem automática de localização pelo avião e o seu desaparecimento, houve em torno de cinco minutos de voo que não estava programado. "Se a localização dos destroços for de fato a região indicada pelos sinais sonoros, será absolutamente certo que o avião fez meia-volta", afirmou Jean-Paul Troadec, diretor do birô. "Por que razão? Não sabemos."

Conforme Brouillard, apenas a leitura dos dados das caixas-pretas poderão revelar o motivo pelo qual a tripulação decidiu-se pelo retorno ao Brasil. Uma hipótese, porém, foi cogitada pelo diretor de investigações: "Frente a condições meteorológicas adversas na mesma região, outros aviões também fazem alterações de rota".

França espera localizar caixas-pretas de avião da Air France até quarta

Parte importante do mistério sobre a queda do voo Air France 447, que realizava o trajeto Rio de Janeiro-Paris em 31 de maio de 2009, está perto de ser desvendado. O Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA) da França anunciou neste domingo, 9, em Bourget, nas imediações de Paris, que espera localizar até esta quarta-feira os destroços do Airbus A-330, desaparecido no Atlântico. Robôs-submarinos vasculham um quadrilátero de 200 km² no qual o avião teria afundado, depois de ter iniciado uma rota de retorno ao Brasil instantes antes da queda.

O provável ponto do fundo do mar em que os restos do aparelho estariam foi anunciado pela Marinha da França na última quinta-feira, em Paris. Graças a um software inovador desenvolvido pela empresa de alta tecnologia Thales, sinais captados pelos sonares que realizaram a primeira fase das buscas, entre 10 de junho e 10 de julho de 2009, puderam ser decriptados. Segundo o diretor do BEA, o engenheiro Jean-Paul Troadec, os "bips" captados são "muito similares" aos emitidos por caixas-pretas. "O sinal foi localizado, mas com os meios de análise da época não tínhamos como identificar o sinal específico", afirmou Troadec. "Estamos convencidos de que os sinais sonoros correspondem bem aos emitidos por balizas acústicas de um avião."

A região tem 200 km², situa-se ao sudoeste da área de buscas delimitada por especialistas europeus e norte-americanos em dezembro de 2009 e é caracterizada por uma profundidade que varia entre 2,6 mil metros e 4,6 mil metros. "É um relevo muito difícil, acidentado, com algumas chapadas que são relativamente mais fáceis de serem vasculhadas", esclareceu o engenheiro. Até ontem, cerca de 65% da área já havia sido varrida pelo navio Seabed Worker, que realiza as buscas.

A exploração do quadrilátero no Atlântico tornou-se prioridade absoluta das equipes de busca e uma nova etapa de verificação não está descartada, caso a atual não seja bem-sucedida. "Nossa prioridade é explorar profundamente essa região. Não localizamos os destroços. Temos boas razões para acreditar que os destroços estão lá, mas ainda não temos a confirmação", alertou Troadec.

Além do uso de sonares, as equipes se valem de robôs-submarinos que fazem mergulhos em grandes profundidades para verificar as informações colhidas. Câmeras também são usadas, mas a visibilidade no fundo do mar é de apenas 10 metros, o que dificulta os trabalhos.

Em favor das buscas conta o fato de na região não há correntes marítimas, o que favorece a hipótese de que os destroços estejam reunidos no fundo do mar. "Não temos todos os resultados das buscas porque os submarinos ficam por 20 horas no fundo do mar. É somente quando eles sobem à superfície que recuperamos os dados colhidos. Agora os submarinos estão vasculhando toda a parte leste do retângulo e, quando voltarem, teremos todos os dados", confirmou Troadec. "É possível que amanhã tenhamos resultados."

Segundo informou ao Estado Alain Brouillard, diretor de investigações do BEA, apenas 20% das informações coletadas nos últimos cinco dias puderam ser analisadas pelos experts. "Estamos otimistas. Os sinais sonoros são o fato mais importante desde a localização dos corpos e pedaços da aeronave", afirmou. Brouillard adverte, porém, que em alguns acidentes aéreos as caixas-pretas acabam ejetadas pelo impacto.

Investigação

A eventual localização dos restos do Airbus, entretanto, não significa que haja um prazo para seu resgate do fundo do mar.

As caixas-pretas terão primeiro de ser encontradas em meio às peças do avião. Além disso, nada assegura que seus dados serão legíveis depois de um ano sob o desgaste provocado pela água salgada. "Quero adverti-los para a elaboração de cenários e hipóteses prematuras. Antes de mais nada, porque ainda não localizamos os destroços", disse Troadec. "E mesmo que venhamos a encontrá-los na zona de pesquisa atual, nada garante que poderemos concluir o que aconteceu no acidente. O BEA continuará muito prudente."

Fonte: O ESTADO/Andrei Netto

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