Nasa confirma cancelamento de programa de volta à Lua

Novos programas de exploração dependerão de parcerias com o setor privado e com outros países

SÃO PAULO - O administrador da Nasa, o ex-astronauta Charles Bolden, confirmou em pronunciamento que o Programa Constellation, estabelecido durante o governo Bush para levar astronautas de volta à Lua até 2020, está cancelado. Bolden fez questão de destacar que o orçamento enviado pelo presidente Barack Obama para a agência aumenta a verba para a agência em US$ 6 bilhões de dólares ao longo dos próximos 5 anos, mas afirmou que o Constellation não era "executável".

Com o cancelamento, serão abandonados os esforços para a criação dos foguetes Ares I - para transporte de astronautas até a órbita da Terra - Ares V - para transporte de carga - e da cápsula Órion, que iria substituir os ônibus espaciais. Bolden afirmou ainda que a Nasa continua comprometida em realizar as cinco últimas missões de ônibus espaciais ainda em 2010, com a aposentadoria dessas naves em seguida.

Com isso, a partir de 2011 os EUA não terão uma tecnologia doméstica disponível para levar astronautas ao espaço. O novo plano pede investimentos em empresas privadas para que as companhias criem essa tecnologia e a forneçam ao governo, a partir de meados desta década.

Novas tecnologias

Bolden anunciou que o orçamento da Nasa cria três novos programas de desenvolvimento tecnológico para permitir que astronautas viagem para a Lua, Marte e até asteroides, no futuro. Embora não tenha mencionado datas para o lançamento desses voos, os novos programas têm orçamentos previstos para os próximos cinco anos.

O primeiro desses programas terá uma verba de US$ 7,8 bilhões, para estimular a criação de novas abordagens para viagens espaciais, como o estabelecimento de depósitos de combustível no espaço e novos sistemas de reciclagem de ar e água para naves tripuladas.

Um programa de desenvolvimento de um novo foguete de carga, com foco em novos combustíveis, motores, materiais e processos terá US$ 3,1 bilhões. O objetivo, disse Bolden é "levar à inovação de métodos para acessar o espaço e ir além da órbita baixa da Terra".

Outros US$ 4,9 bilhões serão destinados ao desenvolvimento e teste de novas tecnologias por meio de prêmios e incentivos ao setor privado.

A Nasa terá ainda US$ 3 bilhões para as chamadas "missões precursoras", com robôs, que "abrirão caminho para a exploração posterior, com seres humanos, da Lua, Marte e asteroides". Bolden citou como exemplo a missão LCROSS, que confirmou a existência de água no polo sul da Lua.

"Imagine viagens a Marte que levem semanas, em vez de quase um ano; pessoas espalhando-se pelo Sistema Solar interior, explorando a Lua, asteroides e Marte quase simultaneamente, num fluxo contínuo. E Imagine tudo isso sendo feito em colaboração com nações de todo o mundo", disse Bolden. "É isso que o plano do presidente para a Nasa permitirá, assim que desenvolvermos as capacidades necessárias".

Laboratório orbital

Bolden também disse que os EUA prorrogarão seu compromisso com a Estação Espacial Internacional (ISS) "pelo menos até 2020", em vez de abandonar a estação em 2015 ou 1016, como previa o plano apresentado no governo Bush.

Bolden afirmou que, uma vez completa, a ISS será tratada como "um grande laboratório". "Todo os tipos de educadores, escolas, instituições científicas e instituições de outros governos usarão a ISS para pesquisas".

Em todo seu pronunciamento, o administrador enfatizou o potencial do criação de empregos do novo plano, principalmente no setor privado, e a necessidade de parcerias internacionais para levar metas mais ambiciosas adiante.

Na entrevista coletiva que se seguiu ao pronunciamento de Bolden, outras autoridades da Nasa evitaram citar prazos para o envio de astronautas ao espaço para além da órbita da ISS, mas afirmaram que a agência não desistiu de explorar o Sistema Solar com missões tripuladas, e insistiram - numa crítica ao Constellation - que o novo plano "não cria falsas expectativas", e que o cancelamento do programa de retorno à Lua não deve ser visto como "um passo atrás".

Homem na Lua


"A verdade é que já estivemos na Lua, há 40 anos. Um foco de curto prazo em baixar o custo do acesso ao espaço e no desenvolvimento de tecnologias avançadas essenciais para nos levar mais longe, mais depressa, é exatamente o que a nação precisa", disse, em nota, Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua. A nota de Aldrin foi divulga pela Nasa.


"Também fico animado ao pensar que o desenvolvimento de meios comerciais para enviar humanos à órbita baixa da Terra provavelmente resultará em muito mais terráqueos sendo capazes de experimentar o poder transformador do voo espacial".

Obama privatizará acesso ao espaço e abandonará volta à Lua

O presidente Barack Obama vai, essencialmente, pôr fim aos esforços para levar astronautas de volta à Lua e dará um novo rumo à Nasa, com uma injeção orçamentária de cerca de US$ 6 bilhões, de acordo com autoridades familiarizadas com o plano. Parte desse dinheiro será usada como estímulo para que empresas privadas assumam a tarefa de levar astronautas ao espaço.

Um representante da Nasa, que pediu para não ser identificado, confirmou informes publicados na quinta-feira, 28, de que quando o novo orçamento dos EUA for proposto,  a Nasa receberá US$ 5,9 bilhões adicionais ao longo de cinco anos. parte do dinheiro prolongará a vida da Estação Espacial Internacional (ISS) até 2020. Ele também será usado como estímulo para que companhias privadas construam naves para levar astronautas à ISS depois da aposentadoria dos ônibus espaciais.

Voo de teste do foguete para astronautas Ares I, cujo desenvolvimento deve ser cancelado. Nasa

O dinheiro proposto pelo presidente não é suficiente para levar adiante o plano de retornar à Lua, lançado pelo então presidente George W. Bush e que já consumiu US$ 9,1 bilhões.

A questão central é o dinheiro. O plano de Bush falhou quando os acréscimos orçamentários, que deveriam ter começado há seis anos, não se materializaram.

A definição de um novo rumo para a Nasa ficou suspenso durante meses, enquanto uma comissão independente estudava as opções e a Casa Branca analisava os resultados. A escolha de Obama foi apresentada oficialmente na segunda-feira.

"Certamente parece que a missão lunar de Bush não será incluída" no orçamento futuro, disse uma alta figura da Nasa.

O estudioso de política espacial John Logsdon, que tomou parte NP comitê de aconselhamento da campanha de Obama para questões espaciais, disse que o presidente está adotando a opção favorecida pelo Comitê Augustine, um grupo de especialistas reunido no ano passado. Essa opção inclui o uso de naves espaciais comerciais, a prorrogação da vida útil da ISS e uma "rota flexível" para a exploração espacial com astronautas, que poderia incluir o pouso humano em um asteroide ou nas luas de Marte.

"O que mata a missão lunar é a decisão de prorrogar a ISS até 2020", disse Logsdon. "Isso significa que a meta de voltar á Lua até 2020 está morta. Não podemos pagar pelo uso da estação por cinco anos adicionais e ainda ir à Lua".

Embora o programa Constellation, estabelecido para o retorno à Lua, esteja morto, "a exploração não está morta, e isso é importante", disse ele.

Defensores da missão à Lua e milhares de funcionários dos centros espaciais da Flórida, Alabama e Texas estão preocupados. Congressistas desses Estados vêm atacando a ideia de abandono do plano, e alguns têm cargos em comitês que podem bloquear os planos de Obama. Por exemplo, o senador Bill Nelson, da Flórida, preside o subcomitê de espaço do Senado. E a presidente do subcomitê de espaço da Câmara, deputada Gabrielle Giffords, é casada com um astronauta.

Em uma nota, a deputada Suzanne Kosmas, da Flórida, disse que a proposta de Obama "deixaria a Nasa essencialmente sem um programa e sem um cronograma para exploração além da órbita da Terra".

As informações sobre o plano espacial do presidente foram divulgados originalmente pelos jornais Orlando Sentinel e Florida Today.

O plano lunar de Bush, anunciado após o desastre do ônibus espacial Columbia em 2003, em resposta à recomendação, feita por um comitê na época, de que a Nasa precisava de um novo foco para suas atividades. Bush propôs o retorno à Lua. O projeto envolveria dois foguetes, o Ares I, para levar astronautas ao espaço, e o Ares V, para transportar carga, além da nave Órion, que seria capaz de abrigar astronautas na órbita da Terra ou rumo a outros planetas.

Até agora, a Nasa gastou US$ 3,5 bilhões na criação do Ares I, US$ 3,7 bilhões na Órion e quase US$ 2 bilhões em outras atividades ligadas ao projeto.

Fonte: O ESTADO / Carlos Orsi

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