Uso de rede social gera uma imensa confusão na TAP

21 de Setembro passado. Um piloto acaba de aterrar em Lisboa, depois de um voo a partir de Maputo, à boleia com colegas - no âmbito das condições de viagem a que o pessoal da TAP tem direito. Em meia dúzia de frases no Facebook, queixa- -se de ter viajado em classe económica, apesar da disponibilidade de lugares em executiva. Nos dois dias seguintes sucedem-se comentários (violentos) de pilotos, assistentes e chefes de cabine, todos colegas de trabalho.
Lição número um: um comentário numa rede social nunca é privado. A conversa ("roubada sem autorização", afirmam os envolvidos) circulou entre o pessoal da TAP, incluindo o comandante e o co-piloto visados nas críticas. Um deles apresentou uma queixa-crime por difamação.
Até aqui, tudo continuaria na esfera privada, com os tribunais chamados a decidir se o direito de expressão foi ultrapassado e se os queixosos foram difamados. Mas a TAP decidiu entretanto promover um curso de "formação comportamental", para o qual foram convocados os funcionários que fizeram comentários no Facebook.
A 28 de Dezembro, o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil enviou uma carta ao presidente da empresa, exigindo que o curso fosse cancelado. No início deste mês, o caso foi discutido numa assembleia-geral de pilotos e para a próxima quarta-feira está marcado novo encontro extraordinário. O sindicato não faz, até lá, qualquer comentário. No entanto, na agenda de trabalhos está, segundo a convocatória a que a agência Lusa teve acesso, a discussão das "medidas a adoptar [...] incluindo o recurso à greve".
Oficialmente, a TAP recusa que o curso de "formação comportamental" esteja relacionado com o episódio no Facebook. António Monteiro, porta-voz da empresa, assegura que a iniciativa se enquadra na "política de permanente formação e actualização de recursos humanos" e que "o objectivo é abranger todo o pessoal navegante".
Na primeira convocatória enviada aos funcionários, a formação com duração de uma semana tinha como título"Ética e Relações Laborais" e incluía disciplinas como Inteligência Emocional. Com a polémica entretanto a subir de tom, a designação passou a ser "Corporate Crew Resource Management", a ministrar por "quadros da empresa". Ainda assim, fontes sindicais destacam que manter pilotos em terra tem custos e estimam que o curso poderá representar quase 50 mil euros para a TAP.
As redes sociais são um novo campo de conflito, mas casos de difamação nascidos na internet já não são novidade. Carlos Pinto de Abreu foi advogado naquela que terá sido a primeira condenação de um autor de um blogue (Cuidado com o Advogado). E está também envolvido num processo em curso, de uma procuradora cujas fotografias foram manipuladas numa rede social.
"A questão nova nas redes sociais é que a partir de certo ponto é difícil haver privacidade", sublinha o advogado especialista em direito penal. "É uma questão a que a jurisprudência terá de ir respondendo", diz.
Há quem escreva no Facebook como se estivesse numa conversa de café, mas Carlos Pinto de Abreu lembra que a prova é facilitada em termos judiciais: tudo fica escrito. Fora do plano jurídico do eventual crime de difamação, mais controversa é a iniciativa das empresas. O penalista Paulo Pinto de Albuquerque lembra que a liberdade de expressão não pode ser limitada pelo empregador. "Obviamente, há regras profissionais, mas o limite deve ser apenas o segredo do negócio." Neste caso, a conversa polémica não contém uma única referência à TAP ou a questões profissionais.
Fontes: IOnline - Pousada de Notícias - foto: Pousada de Notícias
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