Virgínia Silveira
O Brasil está conseguindo resolver um dos principais desafios tecnológicos impostos, há quase três décadas, ao seu programa de lançadores de satélites: desenvolver e fabricar seu próprio sistema de navegação inercial, utilizado na estabilização de satélites em órbita e na orientação da trajetória de um foguete no espaço.
A primeira fase do projeto, batizado de SIA (Sistemas de Navegação Inercial para Aplicação Aeroespacial) já foi concluída, com o desenvolvimento do protótipo de uma plataforma inercial completa, que será testada em uma montanha russa, em um parque de diversões, em São Paulo, no começo do próximo ano. O teste em voo da plataforma será feito até o fim de 2010, numa operação chamada de “Maracatu”.
“Vamos testar os sensores da plataforma no veículo de sondagem brasileiro VSB-30, utilizado em missões suborbitais de exploração do espaço”, disse o coordenador do projeto SIA, Waldemar de Castro Leite Filho.
O VSB-30 acumula um histórico de nove lançamentos de sucesso, sendo que dois foram realizados no começo deste mês, no campo de Esrange, em Kiruna, na Suécia, levando à bordo experimentos científicos europeus.
O Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) também está finalizando a construção de um prédio, que irá abrigar um laboratório de infraestrutura de testes para os sensores da plataforma inercial do SIA.
O laboratório, segundo Leite Filho, é único na América Latina e será capaz de testar sensores com uma precisão de 0,1 grau por hora, ou seja, poderá medir movimentos cem vezes menor que o movimento de rotação da Terra. Empresas como a Embraer e a Petrobras, segundo o pesquisador, já utilizam os laboratórios do DCTA para calibrar seus sensores.
O projeto SIA tem um custo estimado de R$ 40 milhões e está sendo financiado pela Finep, por meio da Fundação de Desenvolvimento de Pesquisa (Fundep).
A execução do projeto está a cargo do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e Instituto de Estudos Avançados (IEAv), vinculados ao DCTA e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O objetivo inicial do SIA, segundo Leite Filho, é capacitar o Brasil a fabricar sistemas inerciais para foguetes e satélites.
A tecnologia será repassada para a indústria brasileira e, por esta razão, o projeto SIA envolve ainda a participação de um consórcio de empresas, o SIN, formado pela Mectron, Equatorial, Optsensys, Navcon e Compsis. Além do programa espacial, o SIA também vem sendo acompanhado de perto pelo exército brasileiro, devido a sua aplicação em sistemas inerciais de carros de combate e mísseis. A marinha tem interesse no SIA para a guiagem de navios e como estabilizador de armas e a Petrobras utiliza sensores inerciais em brocas e sistemas de ancoragem de estruturas flutuantes, utilizadas no processo de exploração de petróleo.
“Se considerarmos um atirador, o sistema inercial é a luneta, porque sem ela não se vê o alvo”, explica Leite Filho. Num avião, segundo ele, o sistema de navegação inercial diz para onde ele está indo e controla o veículo, estabilizando a sua velocidade angular e atitude (orientação no espaço em relação a um sistema de referência).
O sistema inercial, neste caso, ajuda a navegação acrescentando os dados do GPS, mas ele é autônomo, ou seja, não depende de satélites, e sim dos seus sensores para funcionar.
O sistema inercial de um foguete é composto por dois sensores principais: um girômetro e um acelerômetro, que repassam as informações sobre a posição do foguete no espaço para o computador de bordo. É através da plataforma inercial que se consegue, por exemplo, identificar os desvios de rota de um foguete ou satélite em órbita.
O domínio da tecnologia que envolve o sistema de navegação de veículos espaciais, segundo Leite Filho, dará ao Brasil autonomia em uma área considerada estratégica, restrita a poucos países no mundo e sujeita a embargos tecnológicos, que há vários anos tem afetado o programa espacial brasileiro.
Os sistemas inerciais de todos os protótipos de foguetes já lançados pelo Centro Técnico Aeroespacial, (CTA), por exemplo, foram comprados da Rússia e da França, em meados da década de 90, sob objeções do governo dos Estados Unidos.
A compra de componentes para o atual projeto também continua sofrendo embargo dos EUA. Já o sistema de controle de atitude dos novos satélites da Plataforma Multimissão (PMM) do Inpe, serão fornecidos pela Argentina. Os satélites que o Brasil fez com a China levam um sistema de controle de órbita chinês.
O SIA também pode ser usado na aviação e a aeronave Super Tucano, que depende do fornecimento de sistemas da americana Honeywell. Seria uma opção nacional para equipar a frota de 99 aeronaves do modelo, comprada pela FAB.
O Super Tucano já sofreu embargo dos EUA, em 2005, quando a Embraer tentou vender a aeronave para a Venezuela, por conta dos componentes americanos instalados no avião.
Há cerca de um ano a FAB também teve dificuldades em comprar os sensores inerciais do avião de patrulha marítima P-3, que está sendo modernizado na Espanha, pela empresa europeia EADS. O fabricante original do P-3 Orion é a empresa americana Lockheed Martin.
Comentário de Roberto Silva ( Defesa BR)
Sistema de navegação inercial (inertial navigation system – INS) é uma plataforma que disponibiliza posição, velocidades e altitudes de um veículo, aeronave ou míssil, ao medir suas acelerações e rotações aplicadas à estrutura inercial do sistema.
Este tipo de sistema era considerado o Calcanhar de Aquiles do VLS brasileiro, sendo um dos componentes mais críticos de um lançador espacial, uma vez que possibilita a guiagem e o controle da trajetória do veículo, essenciais para a correta inserção da carga útil em órbita, de modo autônomo, sem auxílio de qualquer sinal externo.
Uma plataforma INS é geralmente constituída de dois sensores principais, o acelerômetro, empregado para se determinar as acelerações do centro de massa do veículo, e o giroscópio, usado para determinar as rotações em torno do centro de massa do veículo e, por conseqüência, sua orientação em relação à sua trajetória.
Eis mais um de tantos exemplos de como os EUA fazem de tudo para sabotar e retardar quaisquer expectativas de progresso científico brasileiro.
Finalmente, os brasileiros estão começando a aprender que seu futuro está na independência absoluta da tecnologia americana, até mesmo para sua sobrevivência como nação do jeito que hoje a temos. Esta atitude não é só altamente necessária, é mesmo primordial.
Dito isso, reafirmo que o FX-2 jamais poderia servir para que o Brasil continuasse usando plataformas e equipamentos americanos, caso de 2 dos 3 concorrentes, o F/A-18 e o Gripen NG. Sobra então o Rafale francês, já que não pode ser o Super Flanker russo. Se a relação com a França é estratégica, que seja assim tratada de uma vez.
Fonte: Defesa BR
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