Estacionamento do aeroporto de Los Angeles vira residência de aeroviários longe de suas casas


Todd Swenson, 40,primeiro oficial da Alaska Airlines,descansa em seu trailer, no Estacionamento B do aeroporto de Los Angeles. Sua casa é em Fresno,contudo,ele vive no trailer, quando em serviço

Atingindos pela turbulência que afeta o setor, os aeroviários americanos economizam dinheiro, morando parte do tempo e uma colônia de motor homes, no estacionamento do aeroporto de Los Angeles.

15 dias por mês, o piloto da Alaska Airlines, Jim Lancaster, mora em um motor home no estacionamento B perto da pista sul do aeroporto internacional de Los Angeles.
Cada quatro minuto, um jato passa a 150 metros acima de sua moradia, em operação de pouso. O barulho é tão alto que obriga Lancaster a parar suas conversas. Ele contudo, não se importa. Ele enfrenta o cheiro de querosene de aviação e o canto estridente das turbinas, para economizar tempo e dinheiro.

Ele tem 60 anos e sua casa fica em frente a uma baia silenciosa em Puget Sound, estado de Washington, onde ele vive com sua esposa. Morar no estacionamento B, quando em escala de voo, livra-o de despesas com aluguel de apartamento com outros pilotos ou então o de gastar 12 horas por dia entre Los Angeles e Seattle.

" Quando garotos, pedíamos aos nossos pais que nos levassem ao aeroporto ver aviões,", disse ele. " Agora moro no aeroporto."

Ele não é o único. O motor home de Lancaster fica em meio a mais outros 100 e forma uma colônia de pilotos, mecãnicos e outros aeroviários que trabalham em LAX, o terceiro aeroporto em movimento dos EUA. Cidadãos de uma das mais incomuns comunidades nos EUA.

A colônia dos aeroportuários.

A colônia, a leste do Restaurante Proud Bird, fora do Aviation Boulevard, fica a menos de 1.200 metros da pista sul. É uma mistura de asfalto, luzes de aproximação, e cercas. Ao norte da colônia existe uma plantação de rosas.

Muitos dos moradores ficam longe da família vários dias- mesmo semanas- objetivando manter seus empregos ou até ganhar uma promoção.

" Este é o preço de ser um piloto hoje em dia," disse Todd Swenson, 40 anos, primeiro oficial da Alaska Airlines. Sua esposa, Amanda, e seu filho Noah, de 2 anos de idade , moram em Fresno, uma viagem de 6 horas de carro. " Sempre quis ser piloto. Pode ser horrível hoje, mas tenho que cuidar da família e amo voar ."

Swenson, que ganha $70,000 dólares por ano, mora ao lado de Lancaster, em um trailer Coachman de 1973 e que pertence ao seu pai. Se o trailer de Lancaster, com 12 metros de comprimento e acabamento em couro, é Park Place, o de Swenson é a Miditerranean Avenue. Seu trailer metalizado, com quase 7 metros, é como morar na classe econômica, e só há espaço para um beliche, uma TV e uma cadeira. Existe uma cozinha e um banheiro do tamanho de um lavatório de avião.

As janelas do trailer estão com papeis escuros colados nela, para que ele consiga dormir durante o dia. Para abafar o constante ruído dos aviões, ele comprou uma maquininha que produz outro ruído - um pequeno tocador com uma gravação que aparenta uma máquina de lavar roupa. Swenson frequenta uma academia de ginástica nas proximidades, onde ele se banha e assim economiza o limitado suprimento de água que há no trailer.

Dentro do trailer , os gabinetes em madeira, contém fotos de Amanda e Noah. Ele vive com eles 11 dias do mês, e quando na colônia, mantém contacto via internet e uma webcam.

" Quando ligo o carro em Fresno e volto para cá,a unica coisa em que penso é voltar para estar com a minha família," diz ele.

Durante muitos anos, agrupamentos de trailers ficavam espalhados pelos estacionamentos do aeroporto, até que foi decidido que todos deveram ficar no estacionamento B. Agora sendo operado como uma colônia organizada, existe um prefeito, um código de conduta e algumas exigências para se morar lá, incluindo-se ai checagem de antencedentes criminais, inspeção dos veículos, e prova que a pessoa trabalha para alguma empresa aérea.

" Poderia existir outro local como este, pelo país, mas acho que é o único," disse Michael Biagi, que chefia a divisão de uso do solo nos aeroportos da região de Los Angeles.

Atualmente, a colônia tem pouco mais de 100 moradores - a maioria homenes - de todas as partes do país, incluindo comandantes, primeiros oficiais, comissários de bordo, pessoal de apoio e alguns funcionários de companhias aéreas cargueiras. Moram lá, dois casais, que trabalham como comissários. Dez pessoas estão aguardando uma vaga no local.

O que atrai na colônia, em parte é creditado ao declínio na quantidade de viagens aéreas ocorrido após os ataques terroristas de 11 de setembro, mais a ameaça da Gripe Aviária, em 2003 e agora à pior recessão desde a II Guerra Mundial.

Os salários dos pilotos, mecânicos e outros aeroviários , cairam. Comandantes como Lancaster foram rebaixados para primeiro oficial, perdendo muitos benefícios e afastando-os de aeroportos mais próximos de casa. Lancaster, que veio para Los Angles, vindo de Seattle, 18 meses atrás, calcula que seu rebaixamento custe algo perto de $30.000 dólares por ano, ou 20% de seu salário.

Ao invés de desistirem de seus empregos, ou trazer suas famílias para o que poderia ser uma moradia temporaria, os aeroviários tem preferido fixar-se na colônia, onde o aluguel custa apenas $60 dólares por mês.

" Eles estariam sem trabalho, se não fosse a colônia," conta Doug Rogers, 62 anos, mecânico da United Airlines, morador de Utah e que atua como prefeito da colônia. " você não pode manter residência num lugar e comprar ou manter uma casa em outro, na atual situação econômica. A indústria aérea está muito fragilizada e não se sabe o que acontecerá."

Rogers tem morado no aeroporto, já por 7 anos, em um trailer de 7 metros, construido sobre o chassis de uma caminhonete da Ford. Ele possui uma casa em Stansbury Park, uma comunidade rural de 2.500 habitantes ao norte de Salt Lake City, Utah.

Sua situação de moradia é produto de anos de dificuldades financeiras na United, a qual já esteve em concordata no passado. Neste processo, ele ficou sem trabalho em Salt Lake City, porque a United fechou a unidade de manutenção que existia lá, poucos meses após os atentados de 11 de setembro.

Um corte de $5 dólares para se ganhar $30 dólares por hora, e mais o futuro incerto da empresa, fez com ele decidisse manter sua casa em Stansbury Park e alugar um lugar na Colônia, informalmente chamada Lot B. Agora ele trabalha 10 horas por dia, 7 dias seguidos e folga 3 dias seguidos para poder voltar à Utah.

Há outra vantagem em não se deslocar - quer seja de carro ou avião - quando em serviço: pilotos e mecânicos podem ter mais tempo para descanso, diminuindo o impacto de um problema que tem acompanhado os aeroviários por décadas.
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Uma investigação federal em curso, indica que a fadiga poderia ter sido um fator no acidente de um avião da Colgan Air, que matou 50 pessoas em Buffalo, NY, no dia 12 de fevereiro. O piloto do avião acidentado se deslocava de Tampa, na Flórida até à base operacional da Colgan em Nova Jersey. Já o copiloto, viajava de Seattle para a base, atravessando o país inteiro.

De acordo com o NTSB, 93 dos 137 pilotos da Colgan Air, baseados em Nova Jersey, informaram que fazem longos deslocamentoa, incluindo 49 que viajavam mais de 550 km e 29 que viviam a mais de 1.500 Km da base.

Se não fosse pela colônia Lot B, os residentes estariam se deslocando de Anchorage, Seattle, Indianapolis, Memphis,Menneapolis e até do Havaí. Outros vivem na Califórnia, mas centenas de quilômetros de L.A.

Rogers disse que a vida na colônia tem sido pacata, exceto em um dado período em 2005 , quando alguns moradores não relacionados à atividade aérea , se mudaram de um camping em Dockweiler State para lá, em função de reformas no lugar. Na época, o aeroporto não fazia checagem dos moradores potenciais.

Os novos moradores trouxeram consigo, gnomos como enfeites nas portas dos trailers, jardins e até churrasqueiras, criando uma atmosfera festiva e o potencial para distúrbios dentro da propriedade do aeroporto. Alguns jogavam lixo e até fezes no pavimento. Duas prostitutas passaram a morar no lugar , uma delas com 60 e poucos anos e um gosto por saias apertadas e sapatos de salto alto prateados, dizem os moradores.

Como resposta às reclamacções dos moradores mais antigos, a polícia aeroportuária interveio. Ela removeu as prostitutas e retirou 12 motor homes e campistas cujo o registro havia expirado. Quase fecharam o lugar para avaliar novs regras de residência. Foram proíbidos enfeites fora dos trailers, churrascos e festas.

" Tentamos não chamar à atenção," disse Steve Young, 52 anos, mecânico da United, cuja família vive em Twentynine Palms. " Consideramos viver aqui um privilégio. "

Desde a expulsão dos de fora, a colônia anda bem calma. A maioria das pessoas passa seu tempo livre lendo, assistindo filmes, fazendo compras ou mesmo alguma manutenção em seus trailers. Às vezes, passeiam de bicicleta até Dockweiler, 7 km de distãncia ou visitam a base aéea El Segundo, escoltados por Lancaster que é um tenente coronel aposentado da USAF.

Devido os horários e escalas de trabalho dos moradores variar muito, recreação entre eles são muito raras.Às vezes, organizam uma happy hour no trailer de Lancaster , que é conhecido como ´´chateau´´, pois tem TV via satélite, carpete e mesas em inox.

A esposa de Lancaster,Marlene Lancaster,é professora em Seattle, e gosta muito do Chateu e às vezes, pega um voo nas sextas, à noite e vem para a colônia e fica o fim de semana. " é uma aventura divertida," diz ela.

Ouros moradores, como Rogers, não vêem a hora de uma folga para fugir de seus trailers, do ruído dos aviões e do tédio do lugar.

" Quando volto prá casa, as pessoas perguntam se eu gostaria de ir acampar. Eu respondo: não, eu já faço isso."

Fonte: LA Times
Tradução: JACK

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