Tese de explosão em pleno ar ganha força pela posição dos destroços encontrados no oceano Atlântico
Bruno Tavares, Eduardo Reina, Marcelo Godoy, Daniel Gonzales e Andrei Netto
(ESTADÃO)
O Airbus que desapareceu na segunda-feira, 1, quando fazia a rota Rio-Paris não voava na velocidade adequada e pode ter explodido no ar por razões desconhecidas, afirma nesta quinta-feira, 4, a imprensa francesa. O jornal "Le Monde" diz que o avião voava a uma velocidade "equivocada" o que, em conjunto com uma sequência de eventos excepcionais, teria causando uma explosão em pleno ar.
A Airbus deve emitir um comunicado nesta quinta-feira destinado a todas as companhias que utilizam o Airbus A330, lembrando-as que os pilotos devem conservar a potência dos motores e a posição correta para manter o avião em equilíbrio em caso de condições meteorológicas difíceis.
Segundo o jornal "Le Figaro", que cita fontes da investigação não identificadas, a tese da explosão no ar é reforçada pela grande área do Atlântico onde foram localizados destroços do aparelho, que voava com 228 pessoas a bordo. "É possível observar fragmentos ao longo de uma distância de mais de 300 quilômetros", segundo a fonte citada. O "Figaro" diz que uma explosão a cerca de 10 mil metros de altura poderia ocorrer por um fenômeno meteorológico "excepcionalmente violento", uma "brusca despressurização" ou um "atentado terrorista".
A tese não é compartilhada pelo ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, para quem a presença de óleo no oceano indica que não houve explosão do Airbus da Air France. Uma mancha com cerca de 20 quilômetros de extensão foi localizada nesta quarta-feira por aviões da Força Aérea Brasileira.
O Escritório de Pesquisas e Análises (BEA, em francês) não publicou novas informações em relação às circunstâncias nas quais o avião desapareceu, depois que seus representantes advertiram na quarta-feira, 3, que será difícil encontrar as caixas-pretas. Além disso, o BEA antecipou que, caso esses dispositivos sejam encontrados não se garante que seja possível determinar o que ocorreu.
O que já se sabe sobre o Voo 447
O primeiro sinal de um possível problema a bordo chegou às 23h10 (hora de Brasília) do domingo, dando conta de que o piloto automático do Airbus A330-200 havia se desconectado. As mensagens seguintes apontam para uma sucessão de graves panes em alguns dos principais computadores do jato. O último alerta foi emitido às 23h14: "cabin vertical speed" (cabine em velocidade vertical, na tradução do inglês). Sem gravações de diálogos com o comandante do voo, as dúvidas só poderão ser dirimidas a partir das caixas pretas da aeronave, ainda perdidas no meio do oceano.
A aeronave não seguiu a altitude prevista pelo plano de voo quando o aparelho foi detectado pela última vez pelos radares de Fernando de Noronha, segundo informa o jornal Folha de S. Paulo. O Voo 447 deveria subir de 35 mil pés (10,7 km) para 37 mil pés (11,3 km), o que não foi feito. As causas são desconhecidas, inclusive se os controladores de voo autorizaram a manutenção da altura.
As autoridades francesas afirmaram que não há dados para afirmar que o avião da Air France da apresentava problemas antes de decolar do Rio de Janeiro com destino a Paris. O Escritório de Pesquisas e Análise (BEA, na sigla em francês) comunicou que "nenhum fator leva a pensar que o avião tinha um problema antes de partir do Rio".
Houve falta de comunicação com o controle aéreo do Recife, mas ainda não há explicação sobre as causas. Isso pode indicar que o problema que afetou o avião foi repentino e severo, sem dar tempo para que a tripulação entrasse em contato por rádio com os controladores de voo. Sabe-se que, minutos antes do acidente, uma comunicação por rádio com a base do Recife informou que não havia problemas climáticos por volta das 23 horas (horário de Brasília).
Momentos depois, às 23h10, o próprio avião enviou comunicado à Air France de que o piloto automático havia sido desligado e o sistema fly-by-wire também teria sido desligado. Isso pode ter sido feito pelos pilotos em uma tentativa de controlar manualmente a aeronave durante uma forte turbulência, o que seria algo desaconselhado a fazer. Além disso, a tripulação em um momento de crise concentraria a atenção na tentativa de recuperar o controle do jato. Os sinais automáticos emitidos pelo A330 continuaram informando que outros sistemas de controle do jato deixaram de funcionar até que as 23h14, após uma série de panes elétricas, o avião mandou uma mensagem indicando que estava, possivelmente, em queda vertical.
Uma das hipóteses levantadas por pilotos e experts em segurança de voo é a possibilidade de o avião ter ficado sem instrumentos de navegação e ter se acidentado. Não há explicação para o início desses problemas que teriam provocado pane nos instrumentos. Tanto pode ser um raio como outro problema gerado na chamada "baia eletrônica", onde ficam os computadores que controlam os equipamentos do avião. Nos anos 90, curtos-circuitos em sistemas elétricos podem ter derrubado aviões como um MD-11 da Swissair e um Boeing 747 da TWA no litoral da América do Norte.
Em caso de percurso errático, o acionamento do controle automático pode ser detonado, retirando o comando da tripulação e levando a aeronave a desvios súbitos de trajetória, com ganho ou perda radical de altitude e aceleração superior à suportada pelo equipamento. Jean Serrat, ex-comandante e membro do Sindicato Nacional de Piloto da França lembra ainda que, caso o piloto tenha decidido alterar a rota do avião elevando de forma brusca sua altitude, com o intuito de evitar a instabilidade, o desempenho do aparelho pode ter sido insuficiente. "Nem todos os aviões são capazes, seja por seu peso, seja por seu desempenho, de passar por sobre as tempestades que se formam na região da linha do Equador", explica.
Falha humana também surge como uma das hipóteses para o acidente com o Airbus. Especialistas ouvidos pelo jornal francês Le Figaro afirmam que 70% das catástrofes aéreas acontecem por falha humana, principalmente nos casos em que os procedimentos não são respeitados.
Hipóteses praticamente descartadas
As duas das primeiras hipóteses levantadas - a de que raios pudessem ter abatido isoladamente a aeronave e a de um ataque terrorista - foram praticamente descartadas. Para o diretor-geral do Departamento de Aviação Civil da França, Patrick Gandil, a sequência de uma dezena de mensagens automáticas enviadas em um intervalo de quatro minutos a partir de 4h13min (23h13min de Brasília) indicam que não houve "despressurização explosiva", a destruição, parcial ou total, do aparelho - o efeito mais plausível provocado pela explosão de uma bomba.
Especialistas indicam que uma das hipóteses seria de que a área de instabilidade climática que transitava a faixa equatorial do oceano Atlântico no momento do voo possa ter levado à alteração súbita e imprevista da rota, possivelmente fruto de um processo de congelamento e dano dos principais mecanismos de orientação da aeronave. Porém, o jato é equipado com radares capazes de prever condições meteorológicas adversas na rota e escapar do núcleo de cumulus nimbus, onde a instabilidade é ainda maior. Os técnicos do BEA da França não acreditam na chance de uma tempestade elétrica ter sido decisiva para a sorte dos passageiros.
De acordo com o instituto Méteo France, as condições no momento do trânsito do avião pelo Atlântico não eram as piores possíveis. Prova disso: outras aeronaves atravessaram a mesma região de instabilidade sem sobressaltos. O certo é que sem a caixa preta do aparelho, poucas das dúvidas que cercam a queda do Airbus poderão ser esclarecidas.
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