As companhias aéreas KLM e Lufthansa, que realizaram testes na Europa neste sábado, disseram que seus aviões não apresentaram impactos por causa da fumaça vulcânica que forçou o fechamento do espaço aéreo e de vários aeroportos em todo o continente.
A fumaça decorrente de uma erupção vulcânica na Islândia causou um caos aéreo ao redor da Europa e em todo o mundo nos últimos dias, e os problemas pioraram neste sábado quando a nuvem de fumaça se espalhou para o sudeste, sobre o continente europeu.
A fumaça vulcânica tem um efeito abrasivo e pode danificar superfícies aerodinâmicas vitais e paralisar o motor de uma aeronave.
Com a perspectiva de dias sob uma nuvem de fumaça, pilotos e oficiais de aviação buscam um meio de dobrar a situação alterando os níveis de altitude.
A empresa alemã Lufthansa disse ter transportado dez aviões de Frankfurt para Munique, a maioria voando a "nível visual" de 3.000 metros, enquanto também testava condições a uma altitude de 8.000 metros, segundo o porta-voz Aage Duenhaupt.
"Todos os aviões foram inspecionados na chegada em Frankfurt, mas não houve danos às janelas da cabine de comando ou à fuselagem e nenhum impacto nos motores", disse.
Já a holandesa KLM disse que se próximos exames mostrarem que o teste foi bem sucedido, espera levar seis aeronaves da Alemanha para Amsterdã, na Holanda, neste domingo e conseguir permissão para retomar suas operações parcialmente.
A KLM disse ter levado dois aviões Boeing 737-800 sobre a Holanda a uma altitude regular, de 10 mil a 13 mil metros, e a outros níveis também.
"Não encontramos nada atípico, nem durante o voo, nem durante a primeira inspeção em solo", disse o executivo Peter Hartman, que participou do teste.
"Se os exames técnicos confirmaram esse cenário, estamos prontos para amanhã trazer nossos sete aviões de Dusseldorf para Amsterdã", disse em comunicado. "Aí esperamos conseguir permissão o quanto antes para retomar parcialmente nossas operações e levar nossos passageiros a seus destinos."
Já foram feitos testes na França e na Bélgica neste sábado, disse um porta-voz, que informou que os voos estão ocorrendo a altitudes mais baixas que o normal, sem passageiros à bordo.
O Ministério holandês afirmou que foram estabelecidas condições de segurança específicas para os voos, e que o voo da KLM estava sendo feito sob "circunstâncias controladas".
Arte/FOLHA
Entenda os perigos de voar em nuvens de cinzas vulcânicas
A decisão das autoridades de aviação do Reino Unido de fechar o espaço aéreo do país, diante da proximidade de uma nuvem de cinzas originada por um vulcão na Islândia, trouxe à tona um perigo relativamente pouco conhecido por passageiros e leigos.
Segundo especialistas, esse tipo de fenômeno é capaz de estragar janelas e estruturas de aeronaves, ou até parar as turbinas dos aviões em pleno voo.
"Se partículas de cinzas vulcânicas entram em uma turbina, elas se acumulam e entopem o motor com material derretido", explicou à BBC David Rothery, especialista em vulcões da Open University.
Em um dos incidentes mais dramáticos já registrados, em 1982, um Boeing da British Airways com 263 passageiros a bordo ficou com as turbinas travadas durante vários minutos depois de atravessar uma nuvem de cinzas na Indonésia. Ao perder altitude e sair da nuvem, o material derretido se condensou e se soltou, e os motores voltaram a funcionar.
Tripulantes e passageiros depois relataram que o avião também ficou cercado de faíscas --por causa do fenômeno conhecido como Fogo de Santelmo--, que as janelas foram atingidas pelo que parecia ser areia e que um forte cheiro de enxofre invadiu a cabine, forçando-os a respirar com máscaras de oxigênio.
Com as vidraças quebradas, os pilotos foram obrigados a aterrissar apenas por instrumentos em Jacarta.
Em 1989, uma aeronave da KLM sofreu problemas semelhantes ao atravessar uma nuvem de cinzas vulcânicas no Alasca.
Prejuízo
Segundo Rothery, o incidente resultou em uma mudança nas instruções de emergência para pilotos nestes casos.
"Antigamente, quando os motores começavam a falhar, a prática comum era aumentar a potência. Mas isso só piora o problema das cinzas", explicou.
"Hoje em dia, o piloto desacelera e perde altitude para tentar sair da nuvem de cinzas assim que possível. Uma rajada de ar frio e limpo normalmente é suficiente para limpar e desentupir as turbinas."
Mesmo que não resulte em um incidente grave, a invasão de cinzas em uma turbina faz com que ela seja praticamente inutilizada para futuros voos, de acordo com David Learnout, especialista em aviação do site Flight Global.com.
Em entrevista à BBC Brasil, Learnout disse que isso gera um prejuízo econômico enorme para as companhias aéreas.
"Mesmo que a turbina volte a funcionar, ela perde sua eficiência e passa a gastar muito mais combustível", explicou. "A companhia aérea tem que simplesmente jogar fora esses motores danificados. E o motor responde por um terço do custo de uma aeronave."
Além disso, a maneira como as cinzas atingem o avião altera a forma de todos os seus componentes, segundo Learnout.
Segundo Dougal Jerram, geólogo da Universidade de Durham, as nuvens de cinzas vulcânicas são lançadas na atmosfera após a erupção explosiva de vulcões.
"Se forem lançadas a uma grande altitude, essas cinzas podem chegar às correntes de ar e serem dispersadas pelo resto do planeta, como por exemplo, da Islândia para o resto da Europa", disse. " E é nessas altitudes que os aviões voam."
Leia também:
Cinzas vulcânicas – Por que cancelaram tantos voos?
Fontes: FOLHA - BBC - Agências
Nenhum comentário:
Postar um comentário