Peter Apps
Especialistas dizem que não é possível prever a duração da nuvem de cinzas vulcânicas que continua a atrapalhar a aviação europeia e, portanto, o seu impacto econômico.
O tráfego aéreo da Europa poderá retornar à normalidade em alguns dias ou a erupção poderá durar alguns meses. Abaixo há três cenários com o impacto sobre a economia e os mercados caso a crise dure mais uma semana, um mês ou seis meses ou mais.
RESTRIÇÃO POR MAIS UMA SEMANA
Se a interrupção durar mais uma segunda semana, o impacto econômico aumentará fortemente.
- Muitos viajantes retidos conseguirão voltar para casa, mas não seriam substituídos por novos visitantes, deixando os hotéis com baixa taxa de ocupação, após uma semana bastante movimentada.
- As ações das companhias aéreas cairiam drasticamente, dependendo em boa parte de os governos parecerem abertos ou não à ideia de socorro financeiro.
- O preço do petróleo cairia ainda mais e o impacto no mercado de câmbio observado até agora seria exacerbado. O xelim queniano e a lira turca permaneceriam sob pressão por causa de preocupações relacionadas à horticultura e ao turismo.
- Mais empresas começariam a sofrer com a ausência de suprimentos normalmente entregues via aérea "em cima da hora". Faltariam a alguns fabricantes componentes essenciais, os supermercados não teriam flores, frutas e verduras provenientes da África, alguns laboratórios farmacêuticos poderiam ficar com estoques baixos.
- As cadeias de abastecimento ficariam mais flexíveis. Alguns supermercados já estão transportando bens perecíveis de avião da África para a Espanha e a partir daí de caminhão para os destinos que se encontram sob a nuvem vulcânica. Firmas de logística estão organizando centrais nos aeroportos ainda em funcionamento e depois usam bicicletas e vans dentro da área afetada.
- É difícil calcular o impacto sobre o produto interno bruto e boa parte disso dependerá do grau de restrição. Áreas do espaço aéreo europeu abriam e fechavam na terça-feira à medida que a nuvem se movia, e isso é difícil prever e impossível de se criar um modelo.
- A PricewaterhouseCoopers estima que uma semana de restrição acabaria com entre 0,025 e 0,05 por cento do PIB anual britânico e o mesmo provavelmente seria verdade para outros países europeus.
RESTRIÇÃO POR MAIS UM MÊS
- Isso forçaria muitas empresas a revolucionarem a forma com que operam. Conferências e reuniões seriam canceladas, não apenas durante o mês, mas também mais tarde, ao longo do ano.
- Empresas de logística poderiam se adaptar melhor, reduzindo o impacto com o uso de outras centrais ou métodos de entrega. A indústria do turismo seria afetada gravemente, sobretudo as economias do Mediterrâneo, como Turquia, Grécia, Itália e Espanha. Mesmo que a nuvem desapareça até o fim de maio, é provável que as reservas para o verão europeu sejam bastante afetadas.
- A restrição com um mês de duração teria um impacto quase que certo sobre o PIB europeu trimestral, embora seja impossível estimar o quanto sem saber o grau de restrição e como as empresas reagirão. Alguns economistas afirmam que há muitas variáveis para que valha a pena fazer modelos.
- As companhias aéreas pressionarão muito os governos para que abrandem as restrições, colocando as autoridades numa posição complicada. Se o espaço aéreo europeu ficar 99,9 por cento seguro, com entre 20 mil e 22 mil voos por dia, isso ainda significaria que por volta de 20 aeronaves por dia ainda sofreriam com efeitos prejudiciais ou pane no motor. Qualquer acidente seria politicamente desastroso tanto para as companhias aéreas como para as autoridades.
- Os atrasos nas viagens quase certamente diminuiriam o compasso da resposta europeia e do FMI à crise da dívida da Grécia. O adiamento de uma reunião do FMI e da UE na segunda-feira pressionou as taxas de juros gregas ainda mais para cima e qualquer adiamento maior seria mal avaliado pelos mercados.
CRISE DE SEIS MESES
A última erupção desse vulcão durou mais de um ano; portanto, essa possibilidade não pode ser descartada.
- As companhias aéreas e os governos ficariam desesperados para colocar os voos em operação de novo e teriam de ser convencidos sobre a necessidade do fechamento do espaço aéreo se tivessem de mantê-lo.
- Mesmo uma restrição intermitente seria devastadora em termos de reservas perdidas. As empresas de logística poderiam se adaptar com relativa rapidez, normalizando a produção, mas a remessa aérea de algumas commodities poderia simplesmente cessar, caso nenhum outro método custo-efetivo estiver disponível.
- O impacto sobre a indústria do turismo ao longo do período do verão exercerá um forte impacto sobre o PIB. Alguns economistas sugeriram que isso poderá ser o suficiente para conduzir a Europa de volta à recessão. A economista da Chatam House Vanessa Rossi estimou que a restrição praticamente total vista na semana passada por mais meses poderia diminuir o PIB europeu entre 1 e 2 por cento.
- O impacto deverá variar de país a país. Na Grã-Bretanha, os prejuízos decorrentes da ausência de turistas norte-americanos e europeus poderiam ser mais do que compensados pelos britânicos passando férias no próprio país. No Mediterrâneo, é quase certo que o impacto seria negativo. A África do Sul sofreria bastante caso a Copa do Mundo fosse afetada.
- O FMI e a UE teriam de encontrar formas de organizar pacotes de ajuda que não exijam visitas frequentes ou correriam o risco de atrasar a assistência financeira a uma série de países da Europa.
Fonte: O Globo -Peter Apps/Reuters
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