Como as cinzas vulcânicas podem derrubar um avião

Com a profusão das cinzas vulcânicas em uma geleira em Eyjafjallajokull, na Islândia, os britânicos tomaram a drástica medida de bloquear o espaço aéreo em seu país. Aqui está o motivo.

O movimentado tráfego aéreo mundial passa por centenas de vulcões como este na Islândia - todos eles ativos, sujeitos a cuspir fogo e cinzas subitamente. Somente nos EUA, aeronaves transportam diariamente milhares de passageiros e milhões de dólares em carga sobre vulcões.

Como vemos agora, cinzas vulcânicas podem causar sérios danos à aviação, mesmo a centenas de quilômetros de uma erupção. Cinzas na atmosfera podem reduzir a visibilidade, danificar os sistemas de controle de voo e, mais importante, causar falhas nas turbinas.

Na verdade, de acordo com os agentes de relações públicas da Boeing, nos últimos 30 anos mais de 90 jatos comerciais encontraram nuvens de cinzas vulcânicas e sofreram danos. Aqui está a história de um deles.


A história do voo 867 da KLM

Em 15 de dezembro de 1989 nuvens de cinzas do vulcão Redoubt, no Alasca,  quase causaram a queda do Boeing 747 jetliner com 231 passageiros a bordo depois de panes nos quatro motores.

Enquanto a tripulação do voo 867 da KLM lutava para religar os motores do avião, fumaça e um forte odor de enxofre tomaram conta do avião. Por cinco longos minutos o impotente 747 jetliner, com destino a Anchorage, Alaska, e seus 231 passageiros aterrorizados caia silenciosamente em direção às brancas montanhas Talkeetna, de 3300 metros de altitude.

Os quatro motores haviam incendiado quando o avião inadvertidamente entrou em uma nuvem de cinzas do vulcão Redoubt, a 240 km de distância. A erupção havia começado 10 horas antes, na manhã daquele 15 de dezembro.

Só depois de cair de 8500 m para 4000 m de altitude (uma queda de 4500 metros) a tripulação conseguiu religar os motores e aterrissar com segurança em Anchorage. O avião precisou de reparos que custaram 80 milhões de dólares, incluindo a substituição de todos os quatro motores.

Como isso aconteceu?


É um processo mais ou menos como a versão natural da inutilização dos motores pelo programa "Cash for Clunkers". As cinzas vulcânicas normalmente contêm materiais vítreos, como os silicatos, que derretem a temperaturas entre 600 e 800 graus Celsius.

Como a temperatura interna de um motor a jato passa dos 1000 graus, as partículas vítreas sugadas pelas turbinas derretem instantaneamente. Logicamente, na exaustão, os materiais vítreos são resfriados na câmara da turbina, prendem nas pás e afetam a fluidez dos gases pressurizados da combustão. Essa alteração na fluidez dos gases pode parar o motor em alguns casos - como este do voo 867 da KLM.

Esses encontros caros e perigosos entre aeronaves e cinzas vulcânicas podem acontecer porque as nuvens de cinzas são difíceis de distinguir das nuvens comuns e os dois tipos são invisíveis no radar.

As nuvens de cinzas também podem se arrastar por longas distâncias. Por exemplo, em menos de três dias, uma nuvem de cinzas da erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, viajou mais de 8000 quilômetros até a costa leste da África. Essa nuvem de cinzas danificou mais de 20 aeronaves - incluindo o DC-10 mostrado abaixo - a maioria deles estava voando a mais de 960 km do vulcão.


Portanto a decisão de hoje dos oficiais da aviação britânica até, pelo menos, 1:00 GMT (22h em Brasília) de sexta-feira, embora difícil, faz muito sentido.


Fonte: Jalopnik/Ray Wert / Crédito das fotos: R.L. Rieger, U.S. Navy; Eric Moody, British Airways; Árni Sæberg, Icelandic Coast Guard

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