Franceses estão apreensivos
Sob pressão desde que a FAB decidiu pelo caça sueco Gripen NG para reequipar a frota, os até então favoritos franceses decidiram assumir o alto custo de seu avião na disputa como sinal de que ele é opção de menos risco para o Brasil.
"Nosso produto pode ser mais caro que o sueco, mas é preciso ver que no longo prazo esse investimento trará menos riscos e, provavelmente, menos custos à FAB", disse o diretor da fabricante francesa Dassault no Brasil, Jean-Marc Merialdo.
O avião é o Rafale F3, a mais recente versão do caça que será padrão das Forças Armadas francesas, mas que até aqui não foi comprado por nenhum país.
Sua defesa bate com o princípio defendido pelo Ministério da Defesa para apoiar o pleito francês: independência tem custo, e Brasil e França têm parceria estratégica em curso.
No relatório técnico dos militares, que está sob análise do ministro Nelson Jobim (Defesa), o Gripen venceu basicamente por ser mais barato na compra e na manutenção, além de dar à indústria nacional a possibilidade de compartilhar o conhecimento de desenvolvimento do produto -o caça, versão avançada de um já existente, está na fase de protótipo.
Já o Rafale e o americano Boeing F/A-18 são mais caros e produtos já prontos. As vantagens são de performance: têm duas turbinas e maior capacidade bélica, mas a FAB considerou que todos serviriam para as missões previstas em seu ciclo de vida -de 30 a 40 anos.
Logo, preço e pacote oferecidos falaram mais alto. Merialdo, ressaltando não conhecer o relatório militar que foi adiantado pela Folha na terça-feira passada, vê de forma diferente.
"O Rafale é hoje 100% francês. Significa que não há risco de problemas de integração entre sistemas diferentes, e não haverá quando a indústria brasileira participar de sua construção. Quando você monta um avião com peças de vários fornecedores, o risco que corre é o de ver algo não funcionar lá na frente e ter mais gastos."
É uma estocada no Gripen, que tem um terço de seus componentes feitos na Suécia, outro terço nos EUA e outro, em países europeus.
Para os suecos, a diversidade dá o ganho de escala e permite baixar o preço do avião. "Hoje, é a solução mais lógica", diz o diretor do programa Gripen no Brasil, Bengt Janér.
O caso do F-18 é análogo ao do Rafale, mas seus custos são mais baixos porque a indústria bélica americana é de grande escala. Já há mais de 350 Super Hornets voando.
Os valores envolvidos são sigilosos. Há especulações a partir das ofertas finais dos concorrentes antes de o presidente Lula anunciar a vitória do Rafale sem que a FAB tivesse feito a seleção técnica.
Sobre transferência de tecnologia, Merialdo afirma que o Rafale permite um "upgrade constante". A Dassault diz que a partir do sétimo avião, a montagem será feita no Brasil, e na metade do processo o avião estará nacionalizado. Americanos e suecos sugerem a montagem também na Embraer.
Fonte: FOLHA /Igor Gielow
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